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De mal a pior. A politiconovela continua…

Agora Digo Eu

Há quem defina um bom político como aquele que diz coisas iguais em lugares diferentes e coisas diferentes no mesmo lugar.

Tivemos há dias a visita de Sª Ex.ª o ministro da Saúde à nobre e vetusta cidade. Macedo utilizou o seu charme e um discurso próximo da tal pescadinha de rabo na boca, vulgarmente conhecido pelo vira o disco e toca o mesmo. Pegou na intervenção que fez no auditório da ULS em dezembro de 2012 e, mutatis mutandis, trocou o nome de Vasco Lino por Carlos Rodrigues ficando todos a saber precisamente o que já sabíamos. O discurso repisado tem dois anos e meio e é nem mais nem menos que o sonho Macedista da criação do Grupo Hospitalar da Beira Interior com uma estrutura integrada, administrada por um Conselho Comum, tendo por base um velhinho estudo encomendado com a presença de alguém da Covilhã e onde a régua, esquadro, o Google Earth, o mapa e o calculador de distâncias da Michelin foram instrumentos de trabalho.

Neste processo as unidades da Covilhã, Castelo Branco e Guarda mantêm a autonomia. Dito desta forma a coisa até parece positiva. Mas há sempre um mas. Como a Guarda, desde o longínquo processo cavaquista do Hospital, foi visível e notoriamente maltratada por tudo e por todos, onde apenas os paraquedistas, com verdadeiro espírito de missão, aqui souberam aterrar para se servirem e depois nunca mais ninguém lhes pôs a vista em cima, com a instalação da Faculdade de Ciências Médicas na Covilhã, é perfeitamente percetível que haja toda a vontade de centralizar o máximo de especialidades na Covilhã. Geograficamente é o cento. E é bom. Politicamente parece ser excelente. Disso não restam dúvidas. E como “gato escaldado de água fria tem medo”, as perguntas são óbvias;

O que ganha a Guarda com tudo isto? Quem vai presidir a esse hipotético Conselho? A maternidade é para manter, mesmo percebendo que o número de nascimentos é superior na Guarda aos registados na Covilhã? Manteremos todas as especialidades? E direções de serviço?

Álvaro Amaro parece politicamente satisfeito, pois, segundo diz, o trabalho será feito de forma mais sustentada, haverá melhor cooperação e a Guarda poderá, eventualmente, dinamizar também o ensino universitário. Tenho e mantenho as minhas dúvidas. A ver vamos e é aqui que quase se torna obrigatório citar a tal sábia sabedoria popular “atrás de tempo, tempo vem”.

Neste périplo pelo interior do país, Macedo deu posse a Carlos Rodrigues, que embora não seja destas terras, foi recebido condignamente como só os beirões sabem receber, percebendo-se que o agora empossado presidente da ULS da Guarda tem a perceção que a eventual desmotivação dos profissionais contribui decisivamente para o atual estado de coisas a que a saúde chegou:

Especialidades em completa rutura, falta de médicos, caos nas urgências, etc., etc., etc. Por acaso não foi Passos Coelho que, em setembro passado, nas comemorações do 35º aniversário do Serviço Nacional de Saúde disse textualmente que «o SNS sofreu a maior ameaça de toda a sua história» num discurso de contrastes onde a hipocrisia marcou presença, atribuindo, cinicamente, crescimento positivo a um sector que desprezou e despreza completamente.

É ou não verdade que 34% das despesas de saúde são pagas pelas famílias? Os grupos BES, Mello, Lusíadas e Trofa possuem 60 unidades, controlando metade da saúde em Portugal? A redução de camas foi uma realidade. Menos 3.000 no público. Mais 1.500 no privado. Manutenção de grande parte das parcerias público/privadas. Transferência de mil milhões do Estado para os privados. Política de despedimentos e de não contratação. Uma saúde a duas velocidades num país onde mais de metade da população está isenta de taxas moderadoras por insuficiência económica. Mais carga horária. Redução significativa (para não lhe chamar outra coisa) nos vencimentos. É natural que a desmotivação exista, mas ela é fruto das políticas ordinárias deste malfadado Governo.

Neste caos, nesta quase tragédia em tudo idêntica à de Antígona, é obrigação de todos estarmos atentos, despertos e interessados ao defender o SNS “mais e melhor saúde”. António Arnaut disse: «Não fosse a mãe, a Constituição e o SNS já não existiria». Em setembro há eleições. Preparemo-nos para assistir a discursos, falinhas mansas, posturas e decisões de um chico-espertismo sem limites, nessa desfaçatez completa onde esta direita pseudoliberal irá travestir-se por completo. Mas até aí o povo avisa: andam por aí muitos lobos vestidos com pele de cordeiro.

Por: Albino Bárbara

* Escreve quinzenalmente

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