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Da sabedoria histórica à crença popular

Santos Costa: de Bandarra ao Padre Costa, na senda do mito e da realidade

“Bandarra” e o Padre Costa são essencialmente duas figuras populares, um pródigo em vaticínios, outro em descendência, respectivamente. Ambos levaram o nome de Trancoso além fronteiras e suscitam a curiosidade para outros grandes acontecimentos históricos que se deram nesta terra, como o casamento de D. Dinis com Isabel de Aragão (A Rainha Santa), a Batalha de Trancoso (29 de Maio de 1385) e o pioneirismo na realização de Feiras Francas, precedendo a Feira de São Mateus, de Viseu, em 100 anos.

Esta é a opinião de Santos Costa, investigador e escritor trancosense, autor do livro “O Padre Costa de Trancoso” e da recente edição das Profecias de Bandarra – Gonçalo Eanes. Nascido em São Sebastião da Pedreira (Lisboa), «no dia de São Valentim do primeiro ano da segunda da metade do século XX» – ou seja, 14 de Fevereiro de 1951 –, acabou por se radicar em 1973, por casamento, nesta cidade, onde fundou o jornal “O Castelo”, de efémera vida. Com o livro “O Padre Costa de Trancoso”, Santos Costa pretendeu evocar «uma lenda ou um facto histórico que se transformou em tal, com algum exagero no número de filhos e de mulheres (299 filhos e 53 mulheres), mas que alimentou o imaginário popular». Um exagero que os próprios trancosenses alimentaram para «testemunhar a virilidade do beirão e para colmatar a baixa densidade populacional das terras altas e frias do planalto», acredita.

Com uma tiragem de 800 exemplares, propositadamente distribuída a nível local, fora dos circuitos comerciais e editoriais – é edição do autor – tem sido solicitada para fora do concelho e inclusive para o estrangeiro, estando praticamente esgotada. O autor considera que o seu protagonista «faz-nos rememorar os baixos índices de natalidade que existem no país, nomeadamente nas regiões do interior e não raro se recorre à sua memória para responder à interrogação do senhor Presidente da República sobre porque não nascem mais crianças em Portugal». De resto, «como Trancoso é uma terra de mitos e de factos, por vezes não se sabe onde começam uns e acabam outros. Mas para quem duvide da sua importância histórica, basta ver o seu castelo e as suas muralhas, consultar as páginas da História de Portugal e interrogar-se porque razão D. Dinis escolheu precisamente Trancoso para receber a futura rainha, D. Isabel e aqui com ela contrair matrimónio».

Mas Trancoso é também «a génese do mito do Quinto Império, cuja leitura o Padre António Vieira e Fernando Pessoa encontraram nas “Trovas de Bandarra”», recorda. Estas foram também, sob orientação de Santos Costa, recentemente editadas pela empresa municipal Trancoso Eventos e vendidas ao preço popular de um euro, equivalente ao custo tipográfico «como acontecia na época de Bandarra (século XVI), em que as “Trovas” circulavam copiadas de mão em mão». Para Santos Costa, as profecias de Bandarra – que Fernando Pessoa classificou de «símbolo eterno do que o povo pensa de Portugal» – continuam bastante actuais, basta ler esta cópula: «Eu sou sapateiro mas nobre/ Com bem pouco cabedal/ E tu, triste Portugal/ Quanto mais rico, mais pobre». Santos Costa sente que Trancoso é a sua «mátria» e se “uma segunda vida o esperasse, teria nascido em Trancoso, ainda que fosse descendente do Padre Costa”.

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