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Da mão à boca foi-se a sopa

Numa hora, os visitantes do Festival de Sopas da Serra da Estrela fizeram “desaparecer” mais de mil litros de caldo

Manda a tradição que o dia de S. Martinho requeira lume, castanhas e vinho. Mas a sabedoria popular foi posta de parte em Gouveia, no último domingo, com o tradicional Festival de Sopas da Serra da Estrela. O vinho passou para segundo plano e castanhas só mesmo como condimento de algumas das sopas a concurso no recinto da Adega Cooperativa de S. Paio.

O certame, que já vai na oitava edição, reuniu este ano mais de mil visitantes que puderam saborear as 30 sopas a concurso, confeccionadas por 28 cozinheiros, entre instituições e particulares. Como não poderia deixar de ser, houve sopas para todos os gostos, confeccionadas com ingredientes tão sugestivos como erva peixeira, grôlo da montanha, bolota ou mel de urze. Os condimentos aparentemente mais convencionais também não foram descurados, como o grão, as nabiças, o queijo, a castanha, a morcela ou os míscaros. O certo é que, no final, foram consumidos mais de mil litros de sopas no espaço de uma hora. E a julgar pelas caras dos comensais, a espera – que exasperou muitos dos presentes – valeu a pena tal a diversidade e qualidade das receitas postas à prova. Este ano o prémio maior ficou em casa. Venceu a Fundação Dona Laura dos Santos (Moimenta da Serra), com um sugestivo Creme de S. Martinho com Requeijão e Frutos do Bosque. Bem mais tradicional era a sopa da Comissão de Melhoramentos da Carrapichana (Celorico da Beira), que arrebatou o primeiro prémio na categoria de Instituições/Colectividades com a Sopa de Grão à Moda da Feira da Carrapichana.

Outros premiados foram a Sopa de Castanhas com Míscaros, do Museu do Pão (Seia), na categoria dos Profissionais de Restauração, enquanto a Associação de Promoção Social, Cultural e Desportiva de Juncais (Fornos de Algodres) venceu nas “Outras Sopas” com um Caldo Rico de Perdiz. Já nas sopas confeccionadas com castanhas saiu-se melhor o Rancho Folclórico de Gouveia com uma Sopa de Outono. Satisfeito com o sucesso da iniciativa estava o anfitrião, Álvaro Amaro. O presidente da ADRUSE salientou a «forte adesão» das instituições e o «profissionalismo» que o festival atingiu. Factores que poderão justificar o seu «alargamento além Serra, de modo a que possa chegar de Norte a Sul do país», referiu o também presidente da Câmara de Gouveia. A iniciativa é promovida pela Associação de Desenvolvimento Rural da Serra da Estrela desde 2000 no âmbito da Feira e Cultura da freguesia de S. Paio. Este ano, presidiu ao júri o conhecido “chef” Michel.

Duas vitórias em três anos

A Fundação Dona Laura dos Santos já é veterana no festival, pelo menos a avaliar pelas classificações obtidas nas últimas edições. Em três anos conseguiu arrecadar o primeiro prémio por duas vezes. Desta vez venceu com um Creme de S. Martinho com Requeijão e Frutos do Bosque. «Uma sopa atraente e que parte de uma receita inovadora», adianta Rui Reis, presidente do Conselho de Administração da instituição particular de solidariedade social sedeada em Moimenta da Serra. A receita foi inventada pela própria Fundação e conjuga «o sabor de pinhões, avelãs e castanhas com o travo do requeijão de Gouveia», desvenda. Este cruzamento de paladares foi responsável para que, em menos de 10 minutos, os 25 litros de sopa confeccionados desaparecessem da panela. De resto, o prémio vem mesmo a calhar, já que a Fundação Dona Laura dos Santos está a comemorar 25 anos de existência.

Rosa Ramos

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