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CulturGuarda com passivo de 248 mil euros

Apesar do sucesso, exploração do café-concerto foi deficitária em 25 mil euros

A CulturGuarda tem um saldo negativo superior a 248 mil euros apesar de ter tido proveitos da ordem dos 915 mil euros em 2005 (562 mil euros da Câmara, 147 mil do PO Cultura e 103 mil das vendas). Nos primeiros nove meses de actividade, a empresa municipal que gere o TMG parece ter pecado por excesso, a tal ponto que o revisor oficial de contas (ROC) e fiscal único entendeu dever anexar um relatório extra com as situações que podem ser melhoradas para «um maior rigor contabilístico e melhor controlo interno». O aviso está feito, apesar dos responsáveis da CulturGuarda contraporem que este tipo de empresas «só poderão ser analisadas num horizonte temporal de três a cinco anos».

O que salta à vista neste primeiro relatório de Contas é a diferença de pontos de vista patente nos relatórios da CulturGuarda e do ROC. O primeiro reitera o cariz «marcadamente social» da actividade da empresa e defende como «incontestável» que o objectivo máximo destas sociedades é apresentar «lucro nulo». Contudo, este objectivo ainda está longe de acontecer, ao contrário da programação, «reconhecidamente excelente», e da taxa de ocupação ter ultrapassado as expectativas. Também ao café-concerto foi atribuído um «custo social evidente», mas apesar do sucesso apregoado desde a sua abertura, o espaço apresenta um passivo de mais de 25 mil euros. Outro fracasso nesta fase aconteceu na área do mecenato, que se resumiu a apenas 5.841 euros. Para culminar este mau desempenho de gestão, o Conselho de Administração da CulturGuarda recorda que, em Dezembro último, ter-se-ia perdido metade do capital social se a Câmara não se tivesse comprometido a transferir mais de 161 mil euros, o que afastou o risco de violação do art.º 35 do Código das Sociedades Comerciais, que determina a dissolução da empresa caso essa situação se verifique.

Tabaco dá prejuízo

Já o ROC e fiscal único começa por constatar que a CulturGuarda tinha ao seu serviço 36 colaboradores e não 35, como referia a empresa, para além de uma dívida de 100 mil euros à CGD, resultante de um empréstimo bancário, e de mais de 77 mil euros a fornecedores. Mais, gastaram-se cerca de 67 mil euros em deslocações e estadas em apenas nove meses. Sintomática parece ter sido a gestão do café-concerto, onde as receitas rondaram os 46 mil euros e os custos foram de 23,6 mil euros, daí resultando uma margem bruta de comercialização de 94 por cento, destaca o relatório. Contudo, mais adiante, o ROC descobre que não há motivos para festejar, pois há ainda que considerar os 47.637 euros despendidos com os seis funcionários. Ou seja, no final de 2005, o café-concerto teve mais de 25 mil euros de prejuízo. Isto, sem pagar rendas ou ter custos de manutenção, totalmente suportados pelo proprietário do complexo, a Câmara Municipal. Igualmente curioso é o facto da venda de tabaco ter também dado um prejuízo «não justificado» de 62 euros. Outras “nuances” apuradas por Vítor Simões decorrem da análise orçamental, que revela que a CulturGuarda ficou muito aquém dos objectivos propostos no seu Plano de Actividades. Em termos de receitas, esperava realizar mais de 503 mil euros com os espectáculos, o café concerto e bar, mas só conseguiu perto de 104 mil. Quanto ao parque de estacionamento e aluguer de equipamentos, a empresa estimava encaixar perto de 153 mil euros. Mas os 9.086 euros apurados são reveladores de que algo correu mal.

O mesmo fiasco verificou-se no mecenato, onde se esperava receber 115 mil euros, mas, na realidade, só entraram nos cofres da CulturGuarda 5.841 euros. Na coluna dos custos acontece o mesmo descontrolo. Se, por um lado, houve uma diminuição dos encargos com os espectáculos, registou-se um acréscimo de gastos com o pessoal, passando de mais de 349 mil euros para quase 449 mil euros. Já o item “Outros” duplicou e ficou em mais de 162 mil euros. Em Dezembro de 2005, a direcção artística – composta por duas pessoas – tinha auferido 56.067 euros, enquanto a direcção financeira (3 funcionários) ganhou 55.831. Já a secretária de direcção amealhou mais de 15.419 euros. Nada mal para uma empresa com prejuízos tão elevados.

Luis Martins

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