Que se lixem as eleições.
Que se lixem as…??
Que se lixem…!!!
Primeiro não percebi. Segundo fiquei admirado. Terceiro fiquei boquiaberto.
Lixar significa desbastar uma determinada área tendo à mão uma lixa, que é, nem mais nem menos, um papel de superfície rugosa onde é adicionada areia e serve para polir madeira, matais paredes, etc.
Lixa é também o nome de uma pequena localidade nortenha que este ano comemorou, em junho, 17 primaveras de existência como cidade e tem apenas 4 freguesias: Santão, Borba de Godim e, como não podia deixar de ser, Vila Cova de Lixa e Maceira de Lixa, percebendo-se que um habitante de Lixa só pode ser um Lixense.
Conjugando o verbo lixar no presente do indicativo e na primeira pessoa “eu lixo”, percebe-se claramente quem foi o dito cujo que introduziu o lixo no nosso país, permitindo à Fitch Ratings, à Moody’s e à Standard & Poor’s cortar no rating de Portugal e afundá-lo no lixo.
Continuando o nosso exercício morfossintático e analisando o presente do subjuntivo “que eles lixem”, salta-nos à vista um mundo onde apenas 1% da população mundial possui praticamente metade da riqueza, neste pequeno planeta onde mais de 30 mil crianças morrem por dia vítimas de pobreza extrema e doenças que poderiam ser evitáveis e aí apetece-nos dizer: Estamos lixados.
E quando existe quebra de solidariedade e de valores e se pergunta cinicamente “qual crise, pá”: Estamos lixados.
E quando perdemos o emprego, entregamos a casa ao banco, sobra mês e falta dinheiro, reduzem-nos o vencimento, ficamos sem subsídio de férias e Natal, damos conta da fome e de muita pobreza encapotada, famílias e empresas entram em falência, pagamos com língua de sete palmos aos proxenetas da “troika”, os BCP, os BPN’s, aumentam o custo de vida, suspendem a Constituição, destroem o Serviço Nacional de Saúde e dá-se conta de cada vez mais boy’s, girl’s, do favor, da cunha e do amiguismo: Claro que estamos lixados.
E quando não existe investimento, criação de riqueza, falta de saúde e verbas para terminar obras neste interior profundo: continuamos lixados.
E quando temos este Presidente da República, uma segunda figura de Estado, reformada aos quarenta e poucos anos, políticos de pança arredondada à custa das benesses e do orçamento, gestores públicos, e não só, a ganharem fortunas colossais, ligação dos grandes partidos às grandes broncas nacionais: Estamos, efetivamente, lixados.
Zeca Afonso aconselhava: Quando a corja topa da janela. Quando a infância nunca teve infância. Quando um cão te morde na canela. Quando um homem dorme na valeta. O que faz falta é avisar a malta. O que faz falta é dar poder à malta.
Sócrates, depois de abandonar a escola cínica e todos os socráticos menores e percebendo que política é algo difícil, complexo e tem que se lhe diga, resolveu rumar a Paris e começar a estudar Ciência Política no Instituto de Estudos Políticos, deixando para a História uma série de escândalos, percebendo-se que talvez fosse dos últimos, o último moicano a lixar o país. Engano total. Um partido político tem apenas e tão só um objetivo, traduzido na maior das ambições: ganhar eleições. É mesmo por isso que, para além do anacronismo adicionado à hipocrisia e cinismo político, aconselhamos o cidadão Pedro P. Coelho a seguir os Passos do seu antecessor José Sócrates Pinto de Sousa e matricular-se no curso de Ciências Políticas que lhe permita ter conhecimentos para inverter uma série de políticas que estão a dificultar a vida dos cidadãos, das empresas e do país, pois caso não o faça temos que lhe devolver o epíteto: Que se lixe esta política. Que se lixe Passos Coelho.
Por: Albino Bárbara