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Crónica de Natal

As minhas filhas escreveram um postal ao Pai Natal e a mais pequena dizia “Querido Pai Natal eu sei que estamos em crise, por isso vou pedir poucas prendas” e depois terminou a dizer: “E olha Pai Natal, não gastes muita água a lavar as mãos e a tomar banho”.

Crise tem sido a palavra mais usada nos últimos tempos por todos. E até as crianças já interiorizaram a palavra e usam-na agora no seu vocabulário natalício.

Natal português está a ser sinónimo de poupança, o que se tem refletido nas mais pequenas coisas. E ainda bem. Saber aproveitar a crise para promover os produtos nacionais, para trabalhar a criatividade e ser ecologicamente ativo é também uma forma de viver a época natalícia.

O Infantário de Alfarazes teve uma ideia brilhante: através de sorteio, as famílias, com a colaboração das crianças, tiveram que elaborar uma personagem do presépio com material reciclável. Todos os pais participaram, utilizaram garrafas de água, molas, cápsulas da nespresso, algodão, jornais, houve quem tricotasse, quem costurasse e o resultado final ficou fantástico, superando todas as expectativas.

Decorreu nos primeiros dois fins de semana deste mês a feira de Natal no futuro museu de arte sacra, organizada pela Associação de Jovens Empreendedores da Guarda. Houve vários expositores de produtores locais, dos mais variados sectores, que colocaram o seu produto à venda. Não sei se foi um sucesso em termos de vendas, mas foi uma forma de publicitar o que por cá se faz, a qualidade e originalidade dos produtos surpreendeu certamente muita gente. E fez-se o possível para fazer com que a comunidade pudesse participar ativamente. Alunos do Conservatório foram tocar e cantar musicas de Natal, houve a participação de novos artistas locais, criando-se um ambiente cúmplice e acolhedor entre todos.

Foi mais um ideia brilhante de quem se recusa cruzar os braços perante as adversidades.

O mesmo se passa com os excessos de consumo próprio desta época. As luzes de Natal que normalmente enfeitam as ruas foram este ano preteridas por outras formas de enfeitar a cidade, as montras, as ruas. E as prendas são menos, mas com ideias originais e mais dedicação no tempo e na escolha de cada uma.

A conclusão é a de que os portugueses têm de ser mais portugueses, isto é, saber apreciar aquilo que temos, as coisas que produzimos, não apenas em alturas de crise, mas SEMPRE.

A minha sensação é a de que a crise avivou o espírito natalício que estava um pouco perdido entre a “obrigação” de uma prenda e o uso do cartão de crédito.

A todos, sem exceção, os votos sinceros de um BOM NATAL e que o ano de 2012 seja um pouco melhor para cada um de nós.

Carla Freire

Crónica de Natal

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