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Crise – um estímulo à criatividade

Estudos revelam que a criatividade vai diminuindo ao longo da vida. Amostras bastante extensas mostram que 98% de indivíduos são considerados altamente criativos quando com idades compreendidas entre os 3 e os 5 anos, e que essa percentagem reduz para 2% a partir dos 25 anos. Porém, este decréscimo não parece estar associado a qualquer problema degenerativo inerente ao avançar da idade, mas sim aos bloqueios que o contexto que nos rodeia vai sendo capaz de criar nas nossas mentes. São as regras, os padrões, os métodos, as tradições, etc. que, ainda que orientadores, podem inibir a vontade de experimentar, de sondar o desconhecido, podem relevar o medo pela novidade e fazer-nos cair no imediatismo.

Neste sentido, parece-me que a crise, real, pode ser um estímulo à criatividade. É consensual (ou deveria ser) que esta crise resultou de uma atitude coletiva de descuido e irresponsabilidade, da padronização de hábitos inconscientes. Assumir uma parte da culpa no problema será meio caminho andado para o encarar como ultrapassável. Por outro lado, parece-me encorajador, e nem sequer demagógico, olhar o problema na perspetiva da procura de soluções para a sua resolução. Um facto é: temos menos dinheiro e mais encargos. Esta situação deverá conduzir-nos, antes de mais, a desconstruir ambos os lados desta fatualidade. Dissecar os seus pormenores pode ser doloroso, mas também terapêutico. Pode, inclusivamente, ser extremamente pedagógico.

Um exemplo simples, de “mercearia”: não adquirir, por questões financeiras, alguns dos alimentos habituais (DOR), pode reduzir o consumo excessivo de alimentos que caracterizam as atuais dietas (terapêutica). Um maior “cuidado” na seleção das compras no supermercado pode ter como consequência um melhor conhecimento das nossas necessidades nutricionais, e levar-nos a uma dieta mais saudável (PEDAGOGIA). Basta sermos criativos.

Falando dos investimentos públicos das autarquias, por exemplo. Pondo de parte os casos em que a crise chegou ao ponto de impossibilitar qualquer investimento (que os há), parece-me que a atual situação económica é um estímulo a uma nova forma de encarar os territórios e as comunidades. Uma vez que os frequentes despropósitos são (finalmente) eliminados à nascença, será necessário reaprender a fazer muito, com pouco. Será necessário ser seletivo e criterioso, procurar bem os recursos e desflorá-los da forma menos dispendiosa possível. È tarefa difícil e, por isso, tem a vantagem de obrigar a apurar os sentidos. Mais soluções terão de ser equacionadas, mais detalhes terão que ser estudados, mais inteligência e mais dedicação exigem-se. Os fracos vão apenas lamentar-se, mas quero acreditar que os merecedores dos lugares que ocupam vão ser criativos, vão explorar, passar a conhecer melhor e gerir melhor os seus territórios, vão (talvez) alicerçar um futuro possível.

Einstein disse “Não podes resolver um problema com a mesma atitude mental que o criou”. Poderá esta crise salvar-nos?

Por: Cláudia Quelhas

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