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Crise no futebol distrital da Guarda

Só esta época, sete clubes acabaram com o futebol sénior no distrito. UD Seia deverá aumentar lote

O futebol sénior no distrito da Guarda parece ter entrado definitivamente em crise, vivendo um dos seus períodos mais negros de sempre. Para além de se arriscar a não ter qualquer representante nos campeonatos nacionais, em virtude das desistências, já confirmada, do Souropires, e, quase confirmada, da União Desportiva de Seia (ver texto ao lado), seis clubes não se inscreveram nos campeonatos distritais da Associação de Futebol da Guarda (AFG). Foram eles o Arcozelo, o Guarda Desportiva, “Os Alverquenses”, o Valdamulense, o Pala e o Sandomil.

A diminuição dos subsídios por parte das autarquias e a falta de pessoas para trabalhar no associativismo são algumas das razões que parecem estar na origem destas desistências. O União Futebol Clube de Arcozelo, depois de na última época ter assegurado a permanência na Iª Divisão Distrital, resolveu esta temporada não se inscrever para disputar o campeonato, apenas competindo com a sua equipa de juvenis no respectivo escalão. Vítor Rodrigues, membro da Comissão Administrativa do clube do concelho de Gouveia, explica que um dos motivos que levou à não inscrição da equipa sénior na AFG foi «a falta de pessoas interessadas para trabalhar no clube. Eu e outra pessoa já lá estamos há quatro anos e não havia mais pessoas para colaborar», frisa. Contudo, o factor que «pesou mais» foi a redução do subsídio atribuído pela autarquia gouveense: «O subsídio da Câmara baixou muito. Há duas épocas foi de 25 mil euros, o ano passado já foi de 20 mil e para esta temporada previa-se que baixasse ainda mais», realça. Sobre o regresso do futebol sénior à colectividade, o dirigente diz que poderá acontecer, mas só daqui a alguns anos, uma vez que «o nosso objectivo, quando começámos com os iniciados, era levá-los até aos séniores», sublinha. No entanto, «não sabemos o que poderá acontecer nestes três/quatro anos», mas «se os miúdos cá continuarem é natural que o clube se inscreva na IIª Divisão Distrital», sublinha Vítor Rodrigues.

Também a Guarda-Desportiva Futebol Clube decidiu acabar com o futebol sénior, apenas duas épocas depois da primeira inscrição da colectividade na AFG. Joaquim Carreira, presidente do clube, diz que «seria um suicídio, uma loucura» continuar a actividade do futebol. Os motivos principais que motivaram esta tomada de posição foram a «falta de condições económicas para gerir o clube», «o anúncio da redução do subsídio da Câmara» e também a «falta de mais sócios para o clube», frisa. «Eu já tinha dito que este seria um ano de “tira-teimas”. Na primeira época vendemos cerca de 1.500 bilhetes. Nesta, vendemos apenas 500 e houve jogos, na Guarda, em que chegámos a vender só quatro bilhetes. Assim, é impossível continuar», garante. Por outro lado, «as despesas na AFG e com a Polícia são cada vez maiores» e a Câmara «deixou de apoiar o transporte». Para Joaquim Carreira, «isto claramente se encaminha para que os clubes não profissionais pouco mais possam pagar aos seus atletas que as deslocações». No entanto, o dirigente, que acaba o seu mandato em Novembro e diz que não está disponível para continuar, garante que o clube «não acaba», assegurando a continuidade com actividades não federadas, como a realização de torneios de futsal, xadrez ou judo, por exemplo.

“O Interior” tentou contactar outros responsáveis de clubes que não se inscreveram, mas tal não foi possível até ao fecho desta edição. No entanto, a decisão da Câmara de Pinhel em subsidiar apenas a parte logística dos clubes e a não atribuição de verbas para pagamentos de “ordenados” aos jogadores poderá ter contribuído para a desistência do Souropires, da IIIª Divisão Nacional, e de Alverquenses e Pala, bem como ao facto dos Pinhelenses continuarem unicamente com camadas jovens. Recorde-se que o concelho de Pinhel é o único do distrito que não vai ter nenhum representante nos campeonatos distritais da Guarda.

Ricardo Cordeiro

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