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Criador concebe máquina para deficientes motores

“Plotter” criada por José Gouveia permite pintar, desenhar, cortar e desenvolver circuitos electrónicos

Um curioso do mundo da electrónica, já septuagenário, concebeu uma “plotter” artesanal a pensar nos deficientes motores e na sua integração no mercado de trabalho. A máquina, associada a um programa informático, permite-lhes realizar várias tarefas através de um clique no rato de um PC: pintar em azulejo, fazer desenhos em relevo em latão, cobre ou estanho ou cortar materiais diversos, como esferovite.

José Gouveia garante que o equipamento pode ir mais longe, nomeadamente desenvolver circuitos impressos – a base para a investigação na área da electrónica. Aos 76 anos de idade, o criador dedica todo o seu tempo ao estudo da electrónica, da química e física num pequeno laboratório que montou no centro da Covilhã, na Rua dos Bombeiros Voluntários. Há anos que se dedica a estas áreas e foi até o autor da primeira antena emissora da Rádio Clube da Covilhã (RCC). José Gouveia tem apenas a quarta classe, mas uma vasta experiência que adquiriu nos lanifícios. Na base de todo o seu trabalho estão quase 40 anos como chefe de manutenção nas vertentes eléctrica e electrónica, função que desempenhou no extinto Complexo Industrial dos Lanifícios. «Fui sempre um criador e já em criança gostava de montar e desmontar coisas», conta José Gouveia, que prefere ser chamado de “investigador” ou “autor” em vez de “inventor”.

O seu trabalho aproveita peças de maquinaria e objectos já sem utilização, além de material reciclável. Tem várias criações e a sua última, a “plotter” que construiu a pensar nos deficientes motores, está em exposição no recém-inaugurado Espaço das Idades, na zona da Estação. É numa loja deste espaço que faz as demonstrações do equipamento e, ao lado, mostra todos os materiais para ajudar os potenciais interessados a construir esta “plotter”. «A parte mais ambiciosa está na possibilidade dos deficientes motores poderem, a partir de casa, pintar circuitos impressos para as empresas da área da electrónica», sublinha. O criador diz que este trabalho tem motivado o «interesse de pessoas de Norte a Sul do país», que se deslocam à Covilhã para conhecerem o projecto. «Só queria poder ganhar algum dinheiro para continuar as minhas investigações», acrescenta. De resto, o seu laboratório já é pequeno para tanta maquinaria, peças, ferramentas e utensílios.

Confessa que vive quase exclusivamente para as suas criações. «A minha mulher já se quer divorciar de mim», brinca José Gouveia, para ilustrar as inúmeras horas que passa naquele espaço. Do conjunto de equipamentos que desenvolveu, o criador destaca um projecto que chama de “Raio laser Gouveia”. Trata-se de uma máquina de erosão utilizado, por exemplo, na indústria vidreira da Marinha Grande. Concebeu toda a máquina, desde o sensor ao arame, que garante ser capaz de fazer baixos relevos em aço de carbono com «uma precisão milimétrica». Para o comprovar, exibe uma pequena peça de 4,5 milímetros de tamanho que fez no “Raio laser Gouveia”, uma “plotter” que demorou perto de três anos a criar. Este covilhanense tem ainda mais projectos em carteira. O próximo consistes na concepção de azulejos, mosaicos e telhas fotovoltaicas, numa investigação para a qual diz esperar contar com a ajuda do Instituto Politécnico da Guarda (IPG), com quem já terá iniciado conversações.

«Já aqui esteve um grupo do Politécnico», adianta, dizendo saber como chegar ao seu novo projecto, faltando-lhe apenas conhecer com melhor exactidão um dos componentes a utilizar. Pelo seu laboratório «já passaram professores e estudantes de várias universidades, nomeadamente da UBI e de Aveiro», afiança.

A mais recente criação de José Gouveia está no Espaço das Idades

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