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«Covilhã tem potencial para ser uma referência na arte urbana»

O Woolfest – Festival de Arte Urbana da Covilhã está a chegar ao fim e vai ter uma segunda edição ainda este ano

Desde setembro que a Covilhã tem visto nascer, em pleno centro histórico, diversas obras de arte urbana em paredes ou casas degradadas. O Woolfest deveria ter terminado em dezembro, mas devido às condições climatéricas, o quarto e último evento (intitulado “Inside Out Project”, do artista francês JR) foi adiado e, segundo a organização, só deverá ser realizado em março.

Lara Seixo Rodrigues, co-organizadora do festival, refere que este adiamento foi aproveitado para fazer «uma recolha mais exaustiva e completa» para uma obra que «pretende ir ao encontro da história de vida dos antigos trabalhadores das fábricas de lanifícios que foram fechando ao longo dos anos». O resultado consistirá na aplicação dos retratos destas pessoas nas fachadas de diversas fábricas da cidade. Concluídas que estão, até ao momento, três das quatro obras previstas, a responsável faz um balanço «super positivo» da iniciativa. «O “feedback” não podia ser melhor, tanto por parte dos artistas, como da população e dos media», revela, acrescentando que «os objetivos foram largamente alcançados e o facto de termos conseguido atrair artistas de renome internacional também diz muito da qualidade do Woolfest».

Perante o sucesso da primeira edição, Lara Seixo Rodrigues garante que a iniciativa vai continuar. «Os artistas adoraram participar e elogiaram o potencial da Covilhã para se tornar uma referência de arte urbana a nível nacional e internacional», afirma. Por isso, a segunda edição deste festival já está a ser planeada. «Os artistas já foram contactados e há também uma estimativa para as datas», revela a organizadora, acrescentando que a sua realização está apenas dependente do financiamento. «Esta primeira edição teve o apoio da Direção-Geral das Artes, mas como esse apoio é atribuído em concursos, não sabemos se poderemos contar com ele novamente e, por isso, estamos à procura de patrocínios privados», indica. Se o financiamento for garantido, o primeiro evento do próximo Woolfest deverá acontecer em abril, seguindo-se outros em junho, setembro e outubro.

A confirmar-se esta nova edição, as ações terão lugar «sempre no centro histórico», havendo o objetivo de «criar, progressivamente, uma nova modalidade de turismo na Covilhã». A promotora lembra que «há pessoas que se deslocam a cidades como Bristol, no Reino Unido, ou Miami e Los Angeles, nos Estados Unidos, expressamente para apreciar arte urbana», afirmando que a organização do Woolfest está «a trabalhar no sentido de colocar a Covilhã no roteiro turístico dos apreciadores de “street art”».

Covilhanenses reagiram de forma «muito positiva»

Lara Seixo Rodrigues constata que a reação da população tem sido «muito positiva», pelo que considera que «é uma afirmação errada dizer que as populações locais não gostam de arte urbana». A organizadora realça que, aquando do primeiro evento, realizado pelos portugueses ARM Collective junto à Igreja de Santa Maria, «os trabalhos prolongavam-se até às 4 da manhã, mas nem isso impedia a população de assistir atentamente». O segundo evento, com Alexandre Farto (também conhecido por VHILS) e cujo resultado pode ser admirado na Rua Visconde da Coriscada, gerou «alguma estranheza», segundo Lara Seixo Rodrigues, «por recorrer a uma técnica diferente e ser de leitura difícil», mas nem por isso deixou de ser «bem aceite». Trata-se da escultura de um rosto humano, que procura simbolizar os trabalhadores das fábricas e o envelhecimento do interior.

A catalã Andrea Michaelsson (mais conhecida por BTOY) foi a artista convidada para a terceira sessão e pintou um pastor na fachada de um edifício do Largo Senhora do Rosário. «Os moradores acham a obra engraçada, dizem que o olhar do pastor os reconforta e que se sentem como se alguém ali estivesse a olhar para eles», refere, dizendo que esta obra tem a particularidade de ali ter sido realizada «a pedido da dona do edifício». Lara Seixo Rodrigues revela que, «no geral, a reação foi tão positiva que as pessoas já perguntam se e quando vai haver mais».

Fábio Gomes Património histórico e arte contemporânea em contraste, junto à Igreja de Santa Maria

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        referência na arte urbana»

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