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Cova da Beira poderá tornar-se «crédito-dependente» em breve

Estudo do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social da UBI demonstra que municípios do Norte da Beira Interior são os menos esbanjadores

Toda a Beira Interior é uma região depositante líquida, uma vez que deposita mais dinheiro do que aquele que recebe sob a forma de créditos de vários tipos. Contudo, apesar do saldo entre depósitos e créditos continuar a ser sempre positivo, esta é uma tendência que está a sofrer uma inversão com excepção dos concelhos do Norte da Beira Interior. Esta é uma das conclusões do estudo “O mercado do crédito na Beira Interior”, recentemente divulgado pelo Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social da Universidade da Beira Interior. O estudo desenvolvido pelos investigadores José Pires Manso e Rita Duarte baseou-se em dados do Instituto Nacional de Estatística no período compreendido entre 1995 e 2003.

Conclui-se, assim, que os concelhos que integram a Nomenclatura de Unidade Territorial (NUT) Beira Interior Norte – Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Mêda, Pinhel, Sabugal e Trancoso – são os que apresentam o melhor saldo entre o dinheiro que depositam e os créditos contraídos nos bancos, tanto a particulares, como a empresas e para todos os fins. Um cenário bem diferente do que as outras três NUT’s (Beira Interior Sul, Serra da Estrela e Cova da Beira) apresentam, uma vez que o estudo indica que a «capacidade depositante está em regressão» naquelas três zonas. A investigação indica também que «essa grande capacidade depositante é maior nas NUT’s menos urbanas da Beira Interior Norte (Guarda) e Serra da Estrela (Seia – Gouveia) do que nas NUT’s mais industrializadas da Cova da Beira (Covilhã) e de serviços da Beira Interior Sul (Castelo Branco)». Neste sentido, «a continuar assim, as regiões da Cova da Beira e da Beira Interior Sul, num prazo não muito dilatado no tempo, poderão vir a tornar-se crédito-dependentes», alertam os investigadores. Em 2003, o saldo entre depósitos e empréstimos era de quase 800 milhões de euros na Beira Interior Norte, rondava os 200 milhões na Serra da Estrela, enquanto que na Beira Interior Sul e na Cova da Beira apenas andavam na ordem dos 100 milhões. Um cenário bem diferente do que se passava em 1995: cerca de 900 milhões na Beira Interior Norte, 400 na Cova da Beira e aproximadamente 300 nas outras duas.

Em relação à evolução do crédito total concedido na região entre 1995 e 2003, a Cova da Beira passou de 261,8 milhões de euros para 701,9 milhões, a Beira Interior Norte de 282,4 milhões para 665 milhões, a Beira Interior Sul de 203,2 milhões para 683,2 milhões e a Serra da Estrela de 89,9 milhões para 286,2 milhões em 2003. Uma análise ao crédito total concedido per capita permitiu concluir que, em 2002, Castelo Branco obteve cerca de 1.340 euros por habitante, seguindo-se a Guarda (1.021) e a Covilhã (810). Ao invés, Mêda (160 euros por habitante) e Sabugal (200) apresentam os resultados mais baixos. Curiosamente, os municípios em que a proporção do crédito à habitação, por ano, no total do empréstimo concedido é maior são todos do distrito da Guarda: Celorico da Beira (17,8 por cento), Pinhel (16,7), Trancoso (16,2) Almeida (15,1) e Manteigas (14,2).

Já em relação ao volume de depósitos efectuado nas agências da Beira Interior, de 1995 a 2003, a NUT Beira Interior Norte passou de 1186,5 milhões para 1441,6, seguindo-se a Cova da Beira (675,6 para 820 milhões), a Beira Interior Sul (556,2 para 791,6 milhões) e, por fim, a Serra da Estrela (392,3 para 487,8 milhões). Os concelhos da Beira Interior onde os depósitos per capita são mais elevados são os do Sabugal com 16.990 euros de depósitos por habitante, seguido de Almeida com 14.520. De 1999 a 2002, também as empresas e sociedades da região passaram a recorrer mais ao crédito e a montantes mais elevados de empréstimos, «visto que o valor do crédito às empresas aumentou consideravelmente, mas o número de empresas e sociedades com sede na região diminuiu», sublinha o estudo.

Beira Interior em análise

O estudo englobou as quatro NUT’s da Beira Interior. A Beira Interior Norte que integra os municípios de Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Mêda, Pinhel, Sabugal e Trancoso; Beira Interior Sul – Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Penamacor e Vila Velha de Ródão; Serra da Estrela – Seia, Gouveia e Fornos de Algodres; Cova da Beira – Belmonte, Covilhã e Fundão.

Ricardo Cordeiro

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