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Corta!

Ir ver um filme português é quase um acto religioso. Só pessoas de muita fé continuam ainda a insistir numa cinematografia que é dada há muito como morta. Claro que filmes recentes como «Esquece Tudo o que te Disse» ou «Os Imortais», vêm provar o contrário, mas contra esses, que já desistiram sequer de tentar saber o que se passa no cinema em Portugal, não há nada a fazer. O cinema português é mau e uma seca! Assim o afirmam e nada os fará mudar de opinião.

A estreia de Catarina Ruivo, como todas as obras de estreia em Portugal, teria que ser olhada com a esperança de quem aguarda pelo seu D. Sebastião. Seria desta que teríamos mais um filme para juntar ao que de bom se vai fazendo por cá, sem que, no entanto, alguém repare?

Com um olhar duro sobre a infância, «André Valente» mostra apenas o lado mais infeliz da vida. Sem luzes ao fundo do túnel, nem espaço para ter esperança num futuro melhor. Um pai abandona a mulher e o filho. História mil vezes repetida, um pouco por todo o lado. Quase, por momentos, nos poderíamos imaginar perante uma versão portuguesa de «400 Golpes» do Truffaut, mas, se a força até lá está, e convém ficar atento a esta realizadora, falta-lhe brilho. Algo que pudesse equilibrar tanta dor e sofrimento. O filme nem é mau, mas terá o cinema português de ser (sempre) tão cinzento?

Férias Indie

Se ainda tem dias de férias para tirar, e adora cinema, esta é a altura ideal para gozar esses dias. Destino? Lisboa, onde tem amanhã inicio a primeira edição do IndieLisboa, festival internacional de cinema independente. Até 2 de Outubro o melhor é «acampar» perto da Avenida da Liberdade, bem junto ao Cinema São Jorge, onde tudo irá decorrer.

Em números, o IndieLisboa irá apresentar 79 filmes, entre curtas (50) e longas-metragens (29), Distribuídos entre a secção de Competição, Observatório e Herói Independente. A competição oficial será composta por primeiras e segundas obras, terminadas em 2003 ou 2004, nunca antes apresentadas em Portugal. No Observatório, lugar para descobrir um cinema que nos passa ao lado. Os destaques vão para o documentário «The Fog of War», de Errol Morris, num registo bem diferente dos documentários de Michael Moore, mas com efeitos semelhantes. O novo filme de João Canijo, «Noite Escura», aqui em ante-estreia; «Before Sunset», que marca o regresso da dupla Ethan Hawke e Julie Delpy, nove anos depois de se terem encontrado num inter-rail e «Niceland», filme islandês do realizador de «Angels of the Universe», mais conhecido pela banda-sonora dos Sigur Ròs, são alguns dos filmes a sublinhar.

O destaque principal, no entanto, vai para a homenagem ao Festival de Sundance, um dos mais importantes festivais de cinema independente do mundo, que traz a Lisboa alguns dos melhores filmes que passaram na sua última edição. «Tarnation», de Jonathan Caouette, num registo documental que a todos tem deslumbrado por onde tem passado; e o documentário sensação do momento, «Super Size Me», onde os «beneficios» de uma dieta MacDonalds são evidenciados, estão na linha da frente, acompanhados por «Brother to Brother», de Rodney Evans e «Down to the Bone», de Debra Granik.

São muitos, e bons, os filmes presentes na primeira edição deste festival, que promete regressar já em Abril de 2005. Boas férias!

Por: Hugo Sousa

cinecorta@hotmail.com

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