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Corrupção

A menos de dois meses do início do Euro 2004 as detenções de pessoas ligadas à arbitragem e ao dirigismo desportivo vêem agitar o futebol português. A confirmarem-se as suspeitas da Policia Judiciária, de corrupção, de falsificação de documentos e de tráfico de influências, ainda por cima protagonizada por pessoas com grandes responsabilidades no Desporto Português, esta vai ser uma nódoa difícil de apagar e irá repercutir-se negativamente na imagem do nosso futebol além fronteiras. Recordo que em Setembro de 2002, numa alusão ao que se passava no mundo da corrupção portuguesa e que na altura tive a oportunidade de aqui comentar, Maria José Morgado, directora da polícia Judiciária, já tinha alertado para os “podres” do futebol em Portugal, «as promiscuidades entre autarquias e clubes» e o facto de o futebol português ser «um mundo de branqueamento de dinheiros sujos». Agora que a investigação está no terreno, muitas devem ser as orelhas que enrubescem na perspectiva de que um dia, a qualquer hora, lhes pode tocar a sua vez. Sim, porque isto da corrupção nos jogos de futebol é um fenómeno generalizado em Portugal. Os factos de que tenho conhecimento à hora que escrevo reportam-se à II Divisão B e envolvem o clube de Gondomar mas tal poderia ter acontecido em muitos outras cidades e vilas que possuem equipas de futebol a participar em campeonatos, sejam eles “distritais” ou “nacionais”.

As “profecias” de Maria José Morgado (MJM) parecem agora cumprir-se em toda a linha. E a vitória da magistrada será ainda maior caso se venham a confirmar as suspeitas sobre o major Valentim Loureiro. Foi ele quem na altura mais se indignou e veio à frente das “câmaras” televisivas refutar com toda a veemência (por vezes a raiar a cólera) as palavras da directora da Judiciária. Agora dá-se uma espécie de efeito “boomerang” e é o próprio major que parece atingido pelas próprias palavras.

Os contornos da acção policial ainda são pouco precisos. No entanto deixam entrever um quadro de corrupção muito na linha do que na altura MJM explanou. Dirigentes, Autarquia, clubes de futebol, árbitros, e uma série de resultados falseados. Aí estão os ingredientes de que MJM nos falava.

Interessante será tentar investigar ainda mais fundo e tentar saber porque é que estes casos acontecem. Será só vontade de ganhar? Que outras motivações podem levar os indivíduos a “comprarem” o resultado de certos jogos? E que tipo de formação, ou de dependência, pode ser a de um árbitro que se deixa comprar, muitas vezes pelo preço de meia dúzia de queijos da serra?

Estes casos, hoje, vêm à luz das notícias, e ainda bem que é assim, apesar da importância das personagens envolvidas. Infelizmente não os podemos considerar episódios únicos ou isolados a manchar um mar de dignidade e de fair-play. Não, o problema mesmo, é que por cada um destes casos descobertos haverá 100 ou mais que ficam no segredo de quem os pratica.

Agora, mais importante do que olhar para a vergonha de quem pratica actos de desonestidade e que vão contra os princípios da “verdade desportiva”, importará tentar descobrir as vantagens que a descoberta de tais escândalos nos pode trazer.

Numa semana em que se celebra a conquista da liberdade em Portugal, prefiro olhar para este escândalo da corrupção da arbitragem como um sinal de esperança. Acaso estará próximo, o 25 de Abril no Futebol Português?

Por: Fernando Badana

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