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Corpos Tortuosos e Retratos com Flow: Duarte Vitória e Juan Daniel Domingues

Opinião – Ovo de Colombo

Duarte Vitória (n. 1973, Penafiel), fixado no Porto, e Juan Domingues (n. 1981, Venezuela), fixado em Cantanhede, são dois artistas de diferentes gerações, que têm em comum o virtuosismo técnico, o sentido de carnalidade e as misturas cromáticas que parecem insólitas, mas que interpretam na perfeição a vastidão da pele humana, do sangue subjacente e do estado de espírito do representado, ora quente ora frio.

Duarte Vitória é já um nome sólido da pintura contemporânea. Podemos inseri-lo na linha de Stanley Spencer, Lucian Freud e Philip Pearlstein ou, se recuarmos mais, do simbolista Ferdinand Hodler ou do polémico Egon Schiele, todos eles poetas pictóricos do corpo humano. Oferece-nos representações angustiadas que atraem e inquietam. Corpos captados em close-up, por ângulos inconvenientes e em posições sinuosas que nos intimidam, porque se mostram assustadoramente perto sem qualquer tabu e nos sugerem respostas sobre nós mesmos, como “Single Touch” (2011). Apologias algo agressivas da emoção à flor da pele, não pedem licença para entrar e são capazes de nos subjugar mesmo a grande distância, devido à sinceridade com que nos atingem.

Juan Domingues é um jovem promissor com um longo caminho a percorrer, mas que nos deixa já positivamente expectantes pelo seu futuro. É um pintor de vivências mais leves, de uma pincelada solta, onde por vezes a tinta escorre de forma despreocupada e indiferente em fundos ora neutros ora caóticos, onde o suporte não é escondido. Alguns dos seus retratados, além do nome próprio, identificam-se com a palavra flow, a qual pode significar circulação, fluxo, ritmo ou fluidez. Falamos de retratos de fluidez, onde transparece uma certa forma de estar muito jovem, autêntica e calorosa, contrária ao tom frio e cru de Vitória, como podemos perceber em peças como “Voyeur” (2010) ou “Marta’s New Bag” (2013). Esse flow é também percetível na sua série de desenhos “hyphen” (2012), onde vemos, melhor que na pintura, um risco naturalmente fluido e expressivo.

Diana Rafaela Pereira*

*Mestranda de História da Arte Portuguesa na Universidade do Porto

“Single Touch”, 2011, Duarte Vitória “Marta’s New Bag”, 2013, Juan Domingues

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