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Contra o Iberismo

A primeira conclusão a tirar é que os que defendem a revolução nem aprenderam (todavia nada fácil, diga-se desde já), nem aprendem nada com a História. Outra enorme desvantagem para interpretar esta (saber é interpretar) é não superar uma condição de sub-desenvolvimento interior qualquer que seja a sua origem (condição material originária e desenvolvimento do espírito não são forçosamente paralelos).

Estudar História e dar-lhe o devido relevo é próprio dos mais altos espíritos e das mais altas culturas; é também a razão por que é nas mais altas culturas que se encontram os mais insignes historiadores (a alemã e a britânica são, neste momento, excelentes ilustrações).

Ora, o que um profundo sentimento da importância da História nos mostra é que o ser humano (aqui socialmente considerado, claro), tal como a natureza, não evoluciona por saltos. De outro modo: o normativo que rege o social – para nos circunscrevermos apenas a este âmbito, de resto igual aos outros – carece de um permanente aperfeiçoamento, mas repudia a violência. Aprender tudo e nada esquecer impõe-se, portanto, como imperativa mundivivência, o que significa, então, que a ética e a moral da responsabilidade são conservadoras.

Que, em Portugal, os partidos ditos de esquerda sejam percentualmente muito mais fortes que os de direita, isso mostra como, em termos culturais, o nosso País tem que fazer um esforço enorme para suplantar-se e, por outro, como está longe da Europa (no Parlamento Europeu os conservadores do Partido Popular são muito mais fortes que os socialistas). Para o cidadão comum português isso pode não ser motivo de reflexão, mas, se almeja níveis europeus, não pode deixar de levar muito – mas mesmo muito – a sério tal dado. Modificar uma estrutura social ou, pelo menos, ter perfeita consciência do que ela seja e, destarte, no que são os seus “carris”, fazê-la feliz e próspera, isso é de um genuíno estadista. Os mais qualificados observadores – escassos, claro – têm chamado a atenção para o anacronismo de um” Partido Comunista” – é a sociedade que é anacrónica numa percentagem, claro – mas incomparavelmente pior é o “Bloco de Esquerda”. Ler, no Público, onde é colunista, um dos seus deputados eleitos para Estrasburgo (por pudor não o nomeio) redunda num espanto: como é possível crer que a alguém tão carenciado pode conferir-se protagonismo?! Não é caso único. Esse aterrador ignorante que falou no sesquicentenário do nosso liceu – aterrador ignorante e sem polimento – que, por pudor, também não nomeio, manifestamente, não sabe o que é a Europa. Nunca mediu nem mede as distâncias, para usar esta bela expressão pelos vistos em desuso, mas que era absolutamente comum na geração anterior à minha e que, a meu Pai, ouvia reiteradamente. Que Deus faça que, a ambos, a Europa comece a abrir os olhos.

Foi esta mentalidade profundamente ignorante que, desde o 25 de Abril até hoje, colocou Portugal no estado em que se encontra. Parafraseando esse importante estadista que foi José María Areilza, «Tudo o que se escreve ou diz durante as revoluções, em geral, tem escasso ou nenhum valor». Para além de trazer a liberdade, elemento fundamental para a paz e desenvolvimento sociais – embora não único – é ao 25-IV e aos seus autores/actores que se deve o estado em que nos encontramos.

Nas consabidas e consagradas palavras de Camões, Portugal «deu novos mundos ao mundo». Talvez seja necessário, para melhor se interiorizar isto e nos sentirmos grandes, conhecer (sentir) bem a fundo a realização portuguesa além-mar. Portugal forjou uma nação distinta de Espanha com séculos de antecipação. Após 1640, expulsos os espanhóis, os dois estados seguiram rotas muito diferentes. Até à década de 60 do século passado os nossos vizinhos vinham ao rebusco do lado de cá da fronteira; e a peseta tinha uma cotação irrisória.

Assim, idiossincrasias de ambos nada, digamos, têm que ver uma com a outra. Como é então possível que, em 2006, “apenas” 28% de portugueses desejassem uma confederação ibérica e que, em 2009 – apenas três anos volvidos – , haja 38% ?! Se há um amigo profundo de Espanha e alguém que dela conhece algo é o autor destas linhas, que, durante dias, se instala em casa dos seus amigos espanhóis, conhece – e é carinhosamente recebido – em museus e fundações por todo o seu território, assina uma das suas mais conspícuas revistas culturais e lê – carinhosamente – alguns dos seus melhores jornais. Não, portanto, ao Iberismo.

Os autores/actores do 25-IV é que engendraram o horror de fazer do Portugal de hoje um lugar em que não pode viver-se.

A Educação caiu num abandalhamento; imigra-se cada vez menos e emigra-se cada vez mais (e emigrantes cada vez mais qualificados); invertidos e lésbicas, o que sempre se associou a maldição e sempre fez lembrar Sodoma e Gomorra, são, para um jornal diário que se crê exemplar, um problema nacional (não consegue lobrigar que se há homofóbicos são tais seres); a corrupção é assunto do quotidiano, tal qual abominar políticos; de Belém o protocolo parece ausentar-se (à porta da catedral do Funchal, ao lado da rainha de Espanha, a Primeira Dama estava de calças); etc., etc., etc.

Todavia, não contem comigo para o desânimo. Fique-se apenas com uma nota, caro leitor. Ensina-se aos alunos de História da Arte que os três mais antigos museus do Mundo (da Europa, ao menos) são o Britânico, o Louvre e o Prado. Sucede é que o Prado foi fundado por uma portuguesa. Maria Isabel de Bragança, filha de D.João VI e de D.Carlota Joaquina, casada com seu tio, Fernando VII, ela própria pintora, é que convenceu o marido a converter em museu o que até ali era um gabinete de Ciências Naturais.

Cabanes (Castellón), 6 – VIII – 09

Por: J. A. Alves Ambrósio

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