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Contos Negros para os Filhos dos Brancos, de Blaise Cendrars

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Blaise Cendrars é o pseudónimo de Frédéric Louis Sauser. Embora em 1910 tenha adoptado nacionalidade francesa, nasceu na Suiça, filho de pai suiço e mãe escocesa. Cedo começou uma vida cosmopolita, viajando por muitos países e trabalhando em diversas ocupações., numa época de guerra mundial. As aventuras pícaras foram uma constante na sua vida e disso mesmo tratam muitas das suas obras, nas quais dificilmente se separa biografia e ficção.

No período que antecedeu a I Grande Guerra, Cendrars é considerado um vanguardista, especialmente na poesia onde utiliza técnicas modernistas de fusão de diferentes artes, como a pintura abstracta, o jornalismo e a cinematografia. Mais tarde, estabeleceu ligações com figuras do cubismo, do impressionismo e do surrealismo e começou a dedicar-se à prosa, com especial incidência em géneros semi-biográficos.

Em 1921, editou Contos Negros para os Filhos dos Brancos, uma colectânea de contos infantis, de origem inegavelmente africana, com um toque de exotismo. Em si mesmos, os contos são um testemunho de uma outra cultura, com diferentes padrões, valores e práticas. A passagem dos contos orais para o suporte de papel não implica uma deterioração da sua natureza: os contos são apresentados com frases curtas, discursos directos, verbos no presente, um universo limitado de vocábulos – embora com expressões “diferentes”- personagens simples, de entre as quais se destacam os elementos naturais (a chuva, o vento, o sol), os animais (o pintainho, a rã, o pássaro, o macaco, o crocodilo) e outros como o homem, o lago, o rio, o bicho-que-faz-medo, o eco.

Contudo, o texto não constitui o trabalho total deste livro. As ilustrações, de autoria de Jacqueline Duhême, acompanham o universo ficcional, com representações gráficas muito sugestivas. Nas ilustrações abundam os mesmos elementos que o texto inclui, desenhados com um enorme à-vontade através de traços de carvão certeiros.

A colectânea não é uma publicação recente, nem tão pouco um top de vendas, no entanto é uma lembrança de que a natureza e o homem vivem um para o outro, um aviso de que algo tão simples como o vento, que não tem sombra, pode dirigir o nosso destino.

Por: Carla Ravasco

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