É uma Guarda melhor aquela que o diretor do TMG pretende construir. Depois de ter sido homenageado pela Ministra da Cultura, na noite da última segunda-feira, Américo Rodrigues aceitou o desafio e a responsabilidade de continuar a desenvolver a cidade através da arte.
Ao receber a medalha de mérito cultural, confessou que se sentia «honrado», mas não escondeu que o gesto de Gabriela Canavilhas lhe concedida agora uma «maior responsabilidade». «Sei que esta medalha reconhece o trabalho que tenho realizado, mas não quero esquecer que o ato me responsabiliza fortemente, a persistir, a melhorar. Aceito o desafio», garantiu. O apego à região foi desde logo um dos fios condutores do seu discurso. Animador cultural, poeta sonoro, escritor, ator e encenador, Américo Rodrigues fez questão de sublinhar que é a vontade de «ajudar a Guarda a vencer o imobilismo» que o tem guiado ao longo dos anos, seja no trabalho enquanto diretor do Teatro Municipal ou no começo de tudo, nos tempos em que a sua luta se empreendia entre as paredes da Casa da Cultura da Juventude da Guarda. O princípio que o norteava na época é o mesmo que ainda hoje o faz mover: «olhar e dinamizar a cultura como prioridade estruturante». Na sua opinião, é através da arte que é possível criar uma região melhor, uma missão a que o TMG se tem dedicado, nos últimos seis anos. «A partir de uma pequena cidade, um pequeno teatro contribui para a afirmação da terra e valorização cultural dos seus habitantes», considerou. Neste seguimento, o homenageado agradeceu «a todos os que não quiseram pensar pequenino» e que participaram de alguma forma na construção deste equipamento, que completou na segunda-feira seis anos de vida.
Para a Ministra da Cultura, o dia do aniversário do TMG foi a altura ideal para entregar a medalha a Américo Rodrigues, especialmente devido ao simbolismo da data: «convém repetir até à exaustão que foi o 25 de abril que levou à existência de uma revolução cultural e que permitiu estarmos aqui hoje», começou por sublinhar. Gabriela Canavilhas justificou esta condecoração com «o currículo e todo um percurso dedicado à ação e à dinamização da cultura, à cidade e ao distrito». Além disso, a governante elogiou também o seu trabalho enquanto programador no TMG. «Há muito tempo que acompanho este teatro à distância e sempre senti genuína admiração pela programação», confessou, acrescentando que é na «noção de cidadania» de Américo Rodrigues que reside o segredo do sucesso da agenda cultural. «Para se ser um programador de qualidade, o sentido de cidadania é muito importante, porque quem trabalha em cultura, trabalha sempre para o outro», concluiu. No seu discurso, o ator e encenador deixou claro que os guardenses «merecem o melhor». «As pessoas da nossa terra devem poder aceder a uma programação de qualidade e diversidade intimamente ligada à comunidade e ao seu imaginário», defendeu.
«Há sempre necessidade de adaptar a programação à verba disponível»
No Café Concerto do TMG, Gabriela Canavilhas quis deixar palavras de tranquilidade sobre o financiamento da área cultural, mesmo em pequenas cidades como a Guarda. No entanto, Américo Rodrigues reconheceu que está «preocupado» com o futuro do mundo das artes, especialmente numa época em que Portugal recorreu à ajuda externa. «Quando há falta de dinheiro, normalmente corta-se na cultura», lamentou. Perante um cenário de redução no investimento, o diretor do TMG garantiu que se está «a preparar uma adaptação a essa provável nova realidade». «Podemos ter de reduzir atividades, há sempre necessidade de adaptar a programação à verba disponível», explicou. Ainda que não tenha especificado, deixou claro que a direção do Teatro Municipal pretende procurar formas alternativas de investimento.
Catarina Pinto