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«Continua a haver falta de sangue»

Cara a Cara – Amélia Manso

P – Qual é o balanço que faz deste primeiro ano à frente da Associação de Dadores de Sangue do Distrito da Guarda?

R – Felizmente foi um ano muito positivo. Tivemos mais 411 dadores, face ao mesmo período do ano anterior. Aumentámos também o número de brigadas, atualmente são oito. Fizemos dois seminários no Centro de Emprego, o que constituiu uma das nossas grandes apostas, porque foi aqui que também surgiram muitos dadores novos. Apostámos ainda na zona da raia, em Aldeia do Bispo. Para faixas etárias mais jovens, realizámos outros dois seminários, um na Secundária da Sé e outro na Secundária de Belmonte. Fizemos desdobráveis informativos para entregar nas escolas primárias, só com a informação básica sobre o que é o sangue. Temos hoje uma sede que nos dignifica, embora não seja muito grande. E a partir de outubro, vamos abri-la todas as quintas-feiras, das 15h30 às 17h30.

P – A aposta na sensibilização dos mais jovens resulta da necessidade de uma certa “educação” para a dádiva de sangue?

R –Sim. A primeira vez que fiz um seminário foi no IPG e notámos que quando chegamos ao Instituto já é tarde porque, apesar de jovens, têm muitas dúvidas, ainda existem muitos mitos. As pessoas pensam que podem engordar, que faz mal, que o sangue já não se recupera. E não é nada disso. Se formos fazendo esse trabalho de esclarecimento desde o ciclo, eles vão conhecendo o que é o sangue, como é constituído e quem pode doar: pessoas saudáveis, dos 18 aos 65, com o peso mínimo de 50 quilos. Sempre que se tiram as dúvidas, os mitos acabam. Em seminários com adultos, vemos que depois das explicações dadas mais de metade da turma oferece-se para doar.

P – Ao longo deste tempo, quais foram as situações mais preocupantes com que se deparou?

R – Num trabalho destes é óbvio que há coisas que não correm como desejamos. O Instituto Português do Sangue já cometeu três erros na Guarda, quando se enganou a passar a mensagem aos dadores sobre os locais onde se iriam realizar as brigadas de recolha. À conta disso, uma brigada em que era suposto ter 90 dadores, teve apenas 20, por exemplo. Temos de saber tratar muito bem os dadores, com toda a dignidade, e acarinhá-los.

P – Nas campanhas promovidas, foi possível reunir reservas dentro dos objetivos da associação e de acordo com que o hospital precisa?

R – O número fica sempre aquém, queremos sempre mais. No Hospital Sousa Martins gastamos uma média de 300 unidades por mês. Ora, o ideal era conseguir chegar ao fim do ano e ter pelo menos metade, já nem digo tudo.

P – Qual é o estado das reservas de sangue no Hospital Sousa Martins?

R – Ainda não está bem, continua a haver falta de sangue. Julho, agosto e setembro são meses muito complicados porque as pessoas estão de férias e estão menos disponíveis para a dádiva. Por outro lado, há mais emigrantes na nossa zona, registam-se mais acidentes e acaba por ser preciso mais sangue.

P – Tem receio que a contenção orçamental no país possa também refletir-se nos apoios à dádiva de sangue?

R – É óbvio que esta área poderá ser afetada. Mas penso que com mais cuidado, porque estamos a falar de um produto, o sangue, que não tem substituto. Só temos sangue porque alguém o dá, se tirarem certas benesses aos dadores há muita gente que pode deixar de doar.

P – Atualmente, quantos dadores tem a associação?

R – Quem tem as bases de dados completas é o IPS em Coimbra. Mas penso que, com este acréscimo de mais de 400 dadores, andaremos à volta dos 2.000.

P – Há novos projetos em vista para promover a dádiva de sangue?

R – A nossa maior preocupação é continuar a investir na sensibilização e no esclarecimento da população sobre a dádiva de sangue, sobretudo nas camadas mais jovens, porque elas são o futuro. Temos de trabalhar para daqui a 10 anos continuarmos a ter dadores. É um trabalho a longo prazo, porque temos pessoas inscritas que hoje têm quase 65 anos e a partir dessa idade já não podem doar.

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