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Congresso distrital para a Guarda se fazer ouvir em Lisboa

Iniciativa de reflexão e reivindicação vai decorrer no final de 2005

A Associação Comercial da Guarda (ACG) vai ser a dinamizadora de um congresso distrital, a realizar no final do próximo ano, para fazer chegar a Lisboa uma voz «uníssona e reivindicativa» quanto ao futuro do distrito da Guarda. «Já não se trata de uma reivindicação regionalista, mas é fazer entender ao poder central que a estratégia de um país não pode passar sempre pelo desenvolvimento do litoral», disse na passada quinta-feira Jorge Godinho, presidente da ACG, à margem da apresentação do livro “Guarda – Esperanças e Estrangulamentos”, de Aires Antunes Diniz, editado pela Comercial guardense.

Até lá, a ACG quer promover várias sessões sobre temas diversos, cujas conclusões serão publicadas em livro e servirão de base de trabalho ao congresso, para o qual serão convidados responsáveis nacionais a quem caberá «ouvir aquilo que temos para dizer e não aquilo que pensam que é bom para nós», avisa o dirigente. «O distrito precisa que as pessoas abandonem finalmente a linguagem do politicamente correcto, o que deve acontecer nesta reflexão», espera Godinho, que quer aproveitar o facto da ACG comemorar 100 anos em 2005 para envolver as forças vivas da Guarda numa iniciativa que retrate o «pensamento» do distrito. «Não podemos continuar a assobiar para o lado e fazer de conta que está tudo bem, porque não está», considera, exemplificando com a introdução de portagens na A23 e A25, duas vias estruturantes «que nunca tivemos e a que temos direito»; o PIDDAC «miserável» para o distrito ou o atraso da Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial (PLIE) da Guarda, um projecto que «não pode andar à velocidade a que tem andado». Jorge Godinho acha que «todos nós temos sido um bocado laxistas» em relação à Guarda e que «é tempo de nos saber fazer ouvir em Lisboa, todos juntos ou não», garante.

“Quem não chora não mama”

Júlio Sarmento (PSD) e Maria do Carmo Borges (PS), autarcas de Trancoso e Guarda, respectivamente, já deixaram dois contributos para o congresso. O primeiro entende que faltam ao interior políticas «descentralizadas e coerentes, mas sobretudo majoradas, para que o Estado seja incentivador onde é preciso incentivar mais». De resto, Sarmento não tem dúvidas que o actual estado de coisas no distrito «é muito culpa nossa» e que se conseguirão resultados «mais visíveis» quando os seus responsáveis políticos forem capazes «de se orientarem para os projectos estruturantes». Mais pragmática, Maria do Carmo apelou à luta pela paragem do TGV na região da Guarda e por uma «discriminação positiva» no caso das portagens na A25 e A23. A presidente anunciou ainda para este mês a abertura do concurso público para as primeiras infraestruturas da PLIE. Sugestões registadas e que vão juntar-se ao «instrumento de trabalho» produzido pelo economista Aires Antunes Diniz. “Guarda – Esperanças e Estrangulamentos” conclui pela necessidade do distrito «passar à acção», enquanto a sociedade civil é chamada a tomar «medidas, posições e opiniões» sobre o seu futuro.

O autor considera como estrangulamentos o aparelho de saúde, o acesso à cultura e educação – «muito bem retratado» nos “rankings” das escolas, no abandono e insucesso escolar» -, as oportunidades industriais e comerciais ainda por concretizar e empresários capazes de as realizar. «Claro que o poder político não pode continuar a funcionar como até aqui, porque há um enviezamento do investimento a favor do litoral que tem que acabar», refere Aires Diniz. Quanto às esperanças, o economista aposta numa agricultura vocacionada para os produtos tradicionais, nas Pequenas e Médias Empresas (PME) e no turismo, embora alerte que esta área «não é uma panaceia», mas pode servir para «acrescentar mais mercado ao que já existe». Desde que se relancem marcas do distrito, como o vinho, o queijo da Serra, as carnes ou os fumeiros. «Seria essa a minha fórmula de desenvolvimento», sustenta, considerando um «estrangulamento» a falta de capacidade reivindicativa do distrito. «Costuma-se dizer que “quem não chora não mama”, portanto, quem não fala não existe e todos pensam que está bem. É necessário aumentar essa capacidade reivindicativa porque é a única maneira de termos as coisas», considera Aires Diniz.

Luis Martins

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