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“Confrontos; Dessacralização e Vanguarda” chega ao fim

Museu da Guarda vai editar catálogo sobre exposição de arte contemporânea de Albuquerque Mendes e Júlio Cunha

A exposição de arte contemporânea “Confrontos; Dessacralização e Vanguarda” termina sábado no Museu da Guarda. Um ponto final simbólico que vai contar com a presença dos artistas plásticos Albuquerque Mendes e Júlio Cunha, desafiados a produzir obras de arte contemporânea, em pintura, escultura, fotografia ou instalações, a partir de algumas peças da colecção permanente da instituição. A cerimónia de encerramento fica ainda marcada pela edição do catálogo da exposição e por uma mesa redonda, onde prontifica o crítico de arte Bernardo Pinto de Almeida, duas iniciativas da responsabilidade dos Amigos do Museu da Guarda.

A proposta “Confrontos; Dessacralização e Vanguarda” é uma das mostras mais conseguidas dos últimos tempos no museu guardense. O que tem a ver o quadro de Santa Luzia e Santa Mártir, do século XVII, com a obra homónima de Júlio Cunha? Ou a cabeça de S. Tiago com o “Decapité” do mesmo artista plástico? Qualquer semelhança é pura invenção dos artistas convidados no âmbito da comemoração do Dia Internacional dos Museus, assinalado a 18 de Maio. Albuquerque Mendes e Júlio Cunha reagiram a esta “provocação” de forma verdadeiramente surpreendente. O primeiro, natural de Trancoso, é actualmente um dos nomes fundamentais da arte portuguesa, enquanto a obra do, originário da Guarda, assenta numa estética de fragmentação e na pesquisa de texturas e materiais. Estimulados e confrontados com registos artísticos e históricos de épocas e temáticas diversas, ambos começaram a produzir novas obras que dialogam com as existentes. A exposição permite reflectir sobre diversas questões, nomeadamente a relação do homem com o tempo, observável, por exemplo, nos relógios pendulares de Júlio Cunha.

A exposição abre-se ainda à reflexão sobre a importância do objecto artístico, «à forma como o entendemos, ao seu sentido, utilidade e à relação entre o presente e o passado», refere a directora. O resultado patente no Museu da Guarda dialoga com as obras de arte sacra e evidencia a função pluricultural que, cada vez mais, é atributo das instituições museológicas. No quadro de Santa Luzia e Santa Mártir, Júlio Cunha pegou numa tábua maneirista e desmontou-a através da sua linguagem artística. O artista fez o mesmo com o quadro da decapitação de S. Tiago. «Produziu a sua obra, reconfigurando-a, fazendo até um novo enquadramento», pois está colocada numa porta de ferro onde outrora era uma prisão. Já Albuquerque Mendes apresenta uma instalação intitulada “Sincelo”, fenómeno da Natureza tão característico de Trancoso, a sua terra natal. Ali há cadeiras de estilos distintos que representam o poder das armas (está na sala de armas), mas também, simbolicamente, o poder da água. Noutra peça corroborou o desafio lançado pelo museu, pois «pintou sobre um tecido impresso e provou que uma peça pode ter várias conotações e utilizações», adianta a directora.

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