Nasce no sábado a Confraria das Sardinhas Doces de Trancoso por iniciativa de um grupo de trancosenses que pretendem valorizar e salvaguardar um doce conventual secular que é património da “cidade de Bandarra”.
Estima-se que esta iguaria terá tido origem no séc. XVII no antigo Convento de Freiras de Santa Clara (extinto em 1864), sendo hoje um dos “ex-ibris” da gastronomia local. A sua confeção baseia-se num recheio feito à base de gemas de ovo, açúcar e amêndoa, envolto numa espécie de massa tenra que depois é frita e coberta com chocolate. O seu nome terá sido um «tributo à sardinha, devido à sua escassez na região naquela altura», mas também ficará a dever-se à sua configuração – o seu formato é retangular com uma das extremidades pontiaguda e a outra em forma de rabo de peixe –, com 10 a 15 centímetros de comprimento. «As Sardinhas Doces de Trancoso são uma marca de excelência doceira e uma herança do respeitoso e respeitado património trancosano. Herdadas do clero, pelo povo, são a demonstração genuína de que a simbiose setecentista, a que não estava afastada a nobreza, se redimia na mesa dos sabores, como se nesta e no paladar, na democracia do paladar, se eliminasse a luta de classes», referem os promotores.
Para a popularização do seu fabrico e consumo muito contribuíram, já nos meados do século passado, doceiras como Maria Luísa Bogalho que, com a sua irmã, Maria Antónia, fundou em 1947 a pensão das “Bogalhas”. E ainda Maria do Céu, popularmente conhecida por “Céu do Doro”, que, entre os anos 40 e a década de 70, encantou os seus clientes com estas deliciosas doçarias. Em 2006, a AENEBEIRA – Associação Empresarial do Nordeste da Beira iniciou o processo de certificação desta “sardinha” como Especialidade Tradicional Garantida (ETG). Contudo, o pedido de registo continua à espera de luz verde do IDRHa – Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica, responsável pelos processos de certificação. A cerimónia de criação da confraria tem início pelas 10 horas no Clube Trancosense, realizando-se a entronização dos primeiros confrades ao meio-dia no Convento de São Francisco – Teatro Municipal.
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