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«Concurso está com uma projecção extraordinária no mundo, mas a próxima edição está em risco»

Cara a Cara – Entrevista

P – Qual foi o nível desta sexta edição do Concurso Internacional de Instrumentos de Arco “Júlio Cardona”?

R – A nível do violoncelo, na Classe A (até aos 30 anos), foi altíssimo. Em 10 anos de concurso nunca houve um nível tão alto como nesta edição. Tivemos três ou quatro concorrentes a baterem-se pelo primeiro prémio, todos eles extraordinários. Na Classe B (até aos 18 anos) voltámos a premiar um covilhanense, o que é muito interessaste para uma cidade como a Covilhã. Relembro que já temos vários artistas de violoncelo a mostrarem o que valem no estrangeiro, caso do Nelson Ferreira e do Bruno Boralhinho, por exemplo. Nesta edição, o António Novais, de apenas 17 anos, conseguiu ganhar o primeiro prémio, a peça obrigatória e ser o melhor covilhanense. Já no violino, na Classe A, a qualidade foi um menos elevada, tanto que o primeiro prémio, que é mesmo o prémio Júlio Cardona, não foi atribuído. Isto porque também é preciso defender o nome do concurso e se nas edições anteriores estávamos habituados a um nível elevadíssimo dos instrumentistas, este ano não se poderia alterar esse critério. Assim, decidimos atribuir o segundo prémio “ex-aequo” a dois concorrentes. Isto também é importante para manter elevada a bitola do concurso e para os próximos concorrentes saberem que isto é a sério. Curiosamente, na Classe B passou-se exactamente o contrário. Uma menina alemã, de 11 anos, foi, de longe, a melhor, embora os outros concorrentes fossem todos bons.

P – Quantos concorrentes participaram este ano?

R – Inscreveram-se 97 instrumentistas, o que é uma loucura. Era costume o concurso ter quatro modalidades: violino, violoncelo, viola e contrabaixo. No entanto, este ano, por falta de financiamentos, não conseguimos fazer viola e contrabaixo porque é preciso dar os prémios, pagar o hotel, entre outras despesas. Por isso acabámos por ter 60 participantes.

P – De variadíssimos países?

R – Sim. Vieram um pouco de todos os pontos do mundo. Tivemos concorrentes do Japão, China, Coreia, Estados Unidos, Brasil, Argentina, México e de toda a Europa, desde Portugal, Espanha, Alemanha, França, Inglaterra, Holanda, Itália, Suíça até à Sérvia, Rússia, Ucrânia, Uzbequistão, Arménia, entre outros. Só com violino e violoncelo já conseguimos abranger o mundo todo.

P – Como se têm portado os concorrentes da Covilhã?

R – O melhor exemplo é o de António Novais, que ganhou tudo quanto havia para ganhar. Fazendo uma retrospectiva, vê-se que a Covilhã sempre teve bons violoncelistas.

P – Contudo, apesar dos bons resultados, a próxima edição deste concurso poderá estar em risco devido à falta de apoios?

R – É verdade e é a parte mais triste de tudo. Este ano já sentimos mesmo muito essa dificuldade. Para se ter uma ideia, no ano passado o Ministério da Cultura apoiou com 30 mil euros e este ano com apenas 4.440 euros. Falando em escudos, passou de 6 mil para 800 contos. A Câmara, que está a passar por dificuldades, no quarto concurso apoiou com 25 mil euros, no quinto com 10 mil e desta vez foram só 2.500 euros. Estamos em dificuldades porque não temos reservas para outros concursos e não sabemos se conseguiremos apoios para a próxima edição. No entanto, o concurso está com uma projecção e um prestígio extraordinários em todo o mundo. Este alarme tem que ser dado, pois a próxima edição está mesmo em risco.

P – Sendo uma iniciativa com grande projecção internacional, como vê esta drástica redução dos apoios por parte do Ministério da Cultura e da autarquia?

R – Nós compreendemo-la perfeitamente, porque, não havendo dinheiro para os outros, não podemos querer que haja só para o concurso. Temos que ser compreensivos. Agora, sem dinheiro, também não se pode fazer um concurso destes, que já conseguiu chamar a atenção da Federação Mundial dos concursos internacionais para que nos inscrevamos e tenhamos ainda maior projecção. Ora, se fôssemos um concurso sem importância nenhuma eles não vinham cá.

P – Poderão, por exemplo, tentar o apoio junto de empresas privadas?

R – Na Covilhã não temos verdadeiramente grandes empresas e as que há não têm dirigentes que se importem com as artes, nomeadamente com a música. Há algumas excepções, mas em relação a grandes empresas, normalmente não apoiam e não se interessam. Temos dois anos para mostrar o que valemos para tentar arranjar apoios.

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