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ComUrb – Como construir o futuro renegando o passado?

Tenho acompanhado pelos jornais a polémica relativa à possível constituição da Comunidade Urbana da Beira Interior. Foi com satisfação que vi rivalidades recentes, entre políticos da Covilhã e políticos do Fundão, serem postas de lado em nome do bem comum. Também foi com satisfação que vi rivalidades de sempre, entre Covilhã e Castelo Branco, serem ultrapassadas em nome de um bem maior.

Foi com surpresa que vi políticos egitanienses e de concelhos limítrofes afirmarem que não havia afinidades entre o Norte e as zonas a Sul, para lá da Gardunha. Como podem os egitanienses (guardenses é um neologismo) afirmar que não têm afinidades com a região que lhes deu o nome? Egitaniense não vem de Egitânia, a actual Idanha-a-Velha?

Não se pense que é apenas um nome. Quando a fronteira Sul era ainda instável, o bispo da Egitânia trocou a residência na Egitânia pela residência na Guarda, permitindo a esta ser cidade quase desde a fundação de Portugal. Até à Revolução Liberal, os critérios para a atribuição da classificação de cidade a uma vila eram diferentes dos contemporâneos.

«Na Idade Média, o critério que distinguia as cidades das vilas não era demográfico, socio-económico, cultural nem urbanístico. Mas histórico-eclesiástico ou político. As povoações-sedes de bispado eram incondicionalmente cidades. Mesmo minúsculas como a Guarda […]» – História de Portugal, sob a direcção de José Mattoso, Segundo Volume, legenda da figura da página 352, edição do Círculo de Leitores. Se ainda há poucos anos os egitanienses celebraram, com alegria e orgulho, 800 anos de cidade, graças ao bispado da Idanha, como podem alguns deles vir agora dizer que não há afinidades com as terras a Sul da Gardunha? Têm a veleidade de pensar que conseguem construir o Futuro renegando o Passado?

Paulo Lopes, Covilhã

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