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Compromissos

Editorial

Há precisamente um ano, como resultado das eleições autárquicas, vários municípios mudaram de executivo.

Chegar à liderança de uma câmara em tempos de crise profunda, com os cofres vazios e a lei de compromissos que impedem despesa sem disponibilidade de tesouraria, não permite grandes opções ou sequer assumir promessas eleitorais. Durante dezenas de anos o “milagre” do poder local assentou na execução da infraestruturação básica, a que se sucedeu o despesismo, as obras e obrinhas que rendiam votos, a satisfação de clientelas e o verdadeiro fartar vilanagem, um pouco por todo o lado.

A maioria dos municípios estão hoje à beira da rutura financeira e, depois de recorrerem aos mais diversos planos de recuperação, não têm capacidade para promover o desenvolvimento porque as suas opções estão estranguladas pela dívida e o compromisso de dívida.

Assim, quando os eleitores acreditavam que eleger um novo executivo ou uma nova liderança poderia significar imprimir uma nova dinâmica, um novo cunho e uma nova opção de progresso e desenvolvimento, ficam desiludidos com a morosidade da transformação (já passou um ano) ou com a inexistência de mudanças. A disponibilidade financeira é que determina o sucesso dos projetos políticos; o garrote financeiro mata os sonhos e leva ao fracasso dos líderes; sem dinheiro não se pode mudar nada.

Neste contexto, observamos como a maioria dos autarcas da região, nos concelhos com maior aperto de tesouraria, divulgam os valores em dívida e remetem para as dificuldades financeiras a inoperacionalidade ou a incapacidade para alterar o rumo dos acontecimentos. E se em Fornos de Algodres não há dúvidas de que a situação herdada pelo novo executivo de Manuel Fonseca é da responsabilidade do anterior executivo de que o concelho ficou refém, o mesmo não se poderá dizer de outras câmaras municipais onde, passado um ano, se exige mais do que o choradinho sobre o défice e a falta de dinheiro. Dos líderes espera-se não apenas capacidade de gestão, visão de futuro, parcimónia e bom senso, mas também imaginação e capacidade para, mesmo com pouco, fazer muito. A partir de agora não basta olhar para as contas do passado, é necessário olhar para os projetos e opções de futuro.

2. Ao presidente da Câmara Municipal da Covilhã já não bastava a reação de Carlos Pinto em relação aos valores da dívida da autarquia – com Vítor Pereira a falar de 150 milhões de euros e o anterior presidente a argumentar que, há um ano, seria de menos de metade e que a auditoria era uma «palhaçada» – ainda tem de lidar com a “renúncia” de Guilherme d’ Oliveira Martins a vir à Covilhã participar nas comemorações do dia da cidade. Pior, o presidente da Câmara da Covilhã terá sido devidamente informado de que o presidente do Tribunal de Contas denegou o convite, mas, para não ter de reconhecer que a pressão quezilenta de Pinto interferiu intencionalmente na desistência de Oliveira Martins, retirou do programa a homenagem a António Alçada Baptista sem qualquer esclarecimento.

Luis Baptista-Martins

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