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Compras de Natal em crise

Comerciantes da Guarda e Covilhã preocupados com a quebra das vendas que se faz sentir este ano

Na Guarda, os comerciantes parecem entrar um tanto ou quanto desanimados na quadra natalícia. O espírito da época não escapa este ano à crise, que, segundo os próprios, está instalada e as críticas sucedem-se. A falta de estacionamento na cidade e de chamarizes, sobretudo para o centro histórico, encabeçam a lista de queixas e justificações para a quebra que o comércio tradicional parece atravessar.

Na Rua do Comércio, os lojistas são unânimes. «Urge resolver, de uma vez por todas, o problema do estacionamento», atira Maria José Gonçalves, assegurando ainda que os clientes mais fiéis vão transmitindo que os próprios acessos ao centro já tiveram «melhores dias». As obras «intermináveis» também terão tirado, segundo a proprietária de uma ourivesaria, protagonismo ao local, que agora parece estar «completamente sem vida». A mesma opinião é partilhada por Delfina Roque, dona de um estabelecimento do ramo do vestuário a funcionar na Rua do Comércio há 49 anos. Para além disso, aponta outras causas, como a própria iluminação de Natal, «que está um verdadeiro horror», garante a lojista. «Parece que andam a gozar com os comerciantes. Ninguém entende que, para ter lucros, é preciso investir», adverte. E é aqui que as comparações, partilhadas pela generalidade dos comerciantes, começam. «Estive na Covilhã no último fim-de-semana, levei o meu neto ao cinema e a cidade está lindíssima», vai dizendo. «Nota-se que há uma certa sensibilidade que não existe aqui na Guarda», acrescenta. E devido aos acessos, «que estão cada vez melhores», a facilidade na deslocação às cidades vizinhas começa a tornar-se «noutra ameaça». Sobretudo agora, após a abertura do Serra Shopping.

«O problema nem é que nos retire clientela, mas o dinheiro que as pessoas por lá gastam em deslocações e refeições acaba por fazer mossa no orçamento», adianta Alberto Gonçalves, dono de uma loja de electrodomésticos na Praça Velha. Até agora, o comerciante garante que poucos foram os embrulhos de Natal que dispensou. E nem as fortes expectativas, partilhadas pela maioria dos comerciantes, no que diz respeito aos últimos dias antes do Natal parecem ser animadores para Alberto Gonçalves. «Mesmo que venda bastante, já não chega para cobrir a quebra que se tem vindo a fazer sentir», assegura, lembrando a falta de alternativas de estacionamento na zona «Parece que querem é que fechemos as portas», acusa. E quando se trata de votos para o Natal, Maria Elza Lopes, proprietária de uma ourivesaria, fica-se pela paz e pela saúde, «porque, a nível de finanças, é para esquecer». No ano passado, revela ter tido quebras «na ordem dos 20 por cento», mas desta vez as receitas estão «em menos de metade», confessa. «E sei que os clientes não nos traíram, simplesmente não têm dinheiro para gastar», lamenta.

E o Serra Shopping ali tão perto…

Na Covilhã, o panorama não parece ser muito diferente, sobretudo com a abertura do Serra Shopping, a dois passos do centro da cidade, “habitat” por excelência do comércio tradicional. Algumas lojas já recorreram inclusivamente à técnica das promoções para escoar alguns produtos. Numa tentativa de competir com a grande superfície agora instalada, inaugurou-se o conceito de “promoções de Natal”. «Quando se chega de fora procura-se um local padrão para visitar e, naturalmente, que as pessoas se sentem de imediato atraídas pelo “shopping”», justifica Fernando Ferreira, dono de uma loja de roupa. Apesar de tudo, este comerciante acredita também nas mais-valias que o centro comercial trouxe à cidade, nomeadamente «postos de trabalho, que vão gerando alguma riqueza, sobretudo na época difícil em que vivemos», refere. Do outro lado está Glória Marques, empregada de uma loja do mesmo ramo, que confessa que as vendas se têm mantido «relativamente estáveis». A funcionária acredita mesmo que o Serra Shopping contribui para que o resto da cidade acabe por ganhar «algum dinamismo». E adianta que nas últimas semanas até têm vindo à sua loja clientes da Guarda e Castelo Branco, o que não era «habitual», sustenta.

Rosa Ramos

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