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Compra de imóvel para quartel dos bombeiros contestada

Ano e meio após a Associação Humanitária de Famalicão ter sido homologada, a direcção demitiu-se em bloco

Os órgãos sociais dos Bombeiros Voluntários de Famalicão da Serra, no concelho da Guarda, demitiram-se em bloco na sequência do chumbo da aquisição de um imóvel para instalar o quartel e a sede da corporação. O assunto foi o tema central da Assembleia Geral de 30 de Novembro, mas a maioria dos sócios levantou muitas dúvidas ao negócio.

O mandato da primeira direcção só deveria terminar em Dezembro de 2010, mas António Fontes, actual presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Famalicão da Serra (AHBVFS), garante não haver condições para continuar. «Manteremos a gestão corrente até que surja uma nova direcção, quando o presidente da mesa entender que deve haver eleições», adiantou a O INTERIOR. Segundo uma carta enviada aos associados, na origem da demissão está a deliberação, pela maioria dos sócios, de «adiar e remeter para discussão posterior a aquisição de um imóvel para acolher a sede da associação», o que contraria o projecto da direcção demissionária. «Consultámos dois técnicos para avaliarem o edifício e preparámos o plano de actividades nesse sentido», argumenta António Fontes, para quem esta recusa dos sócios significa «falta de confiança». De resto, o presidente da AHBFS garante que a obtenção de fundos para a recuperação do imóvel só será possível se for entregue, ainda este mês, uma candidatura junto da Associação Nacional de Protecção Civil (ANPC).

«Com este adiamento, o projecto que sempre quisemos viabilizar deixou de fazer sentido», lamenta. António Fontes acrescenta que a direcção cessante entendeu que as pessoas manifestaram a ideia de que deveria ser construído um quartel de raiz. «Já que nós não conseguimos fazer um novo, vamos dar lugar a quem consiga», esclarece, considerando que será «completamente impossível» a construção de um edifício de raiz. «Saio porque não quero que, no futuro, me acusem de Famalicão não ter um novo quartel porque não dei lugar aos outros», refere. Ao que tudo indica, deverão ser agendadas em Janeiro novas eleições e Daniel Rocha, bombeiro e autor da proposta de adiamento da aquisição do imóvel, poderá ser um dos candidatos à liderança da associação. «Tenho vontade de me entregar a um trabalho dessa natureza, mas só se for mesmo necessário, porque penso que tenho muito mais para dar enquanto bombeiro», declarou a O INTERIOR.

Direcção acusada de «irresponsabilidade»

De resto, o jovem garante «não estar contra nem a favor» da construção de um quartel de raiz. «Apenas pedimos esclarecimentos à direcção sobre o projecto de requalificação, um direito que assiste os associados de acordo com os Estatutos», esclarece. Daniel Rocha diz mesmo não compreender a decisão da direcção, classificando-a mesmo de «preocupante», uma vez que «apenas queria dialogar sobre a possibilidade de, se fosse caso disso, se poderem equacionar outras possibilidades, já que se trata de uma decisão que vai influenciar a corporação a longo prazo», justifica. Quanto à candidatura à ANPC, o bombeiro acusa a direcção cessante de «irresponsabilidade», pois «um bom dirigente nunca deixa para a última hora a votação de uma decisão tão importante». Actualmente, os bombeiros de Famalicão ocupam, provisoriamente, instalações cedidas pela paróquia, que não possuem as melhores condições de operacionalidade. Facto que chegou a ser referido em 2006 no relatório elaborado aquando da morte de um dos seus elementos e de cinco sapadores chilenos.

A direcção demissionária tinha decidido comprar um edifício, onde em tempos funcionou uma serralharia, «pelo valor de 85 mil euros, estando já garantidas as verbas para a sua aquisição e recuperação, através da Câmara da Guarda e da ANPC», revela António Fontes. De resto, a AHBVFS foi criada há pouco mais de um ano, a 3 de Julho de 2007, tornando-se a 23ª terceira Associação Humanitária do distrito e a terceira do concelho da Guarda.

Rosa Ramos

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