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Como te chamas?

Corta!

Maria

É difícil controlar os desejos dos inconsolados. Daqueles que procuram estar sempre mais perto dos limites em que o céu surge como última fronteira. Maria, de Maria Cheia de Graça, é uma dessas personagens. Uma dessas amigas de Rosetta. Peça perfeita num mundo defeituoso, impossível de encaixar onde quer que seja.

Para se libertar do seu mundo, desinteressante e sufocante para espiritos que nasceram para viver em liberdade, Maria, num primeiro papel assombroso de Catalina Sandino Moreno, opta pelo atalho de transportar droga, literalmente dentro de si, da Colômbia para os Estados Unidos.

Entre o documentário e o suspense digno do melhor Hitchcock, o filme de Joshua Marston é a primeira grande surpresa do ano.

Melinda

Ainda não é um regresso aos seus melhores tempos, mas, com Melinda e Melinda, Woody Allen volta a deixar alguma esperança naqueles que nunca desistiram de procurar nos seus filmes a genialidade perdida vai já para muitos anos, e muitos filmes entretanto feitos.

Ao contrário da sua obra mais recente, há aqui uma ideia, e uma muito boa ideia, que serve de ponto de partida para todo o filme. Numa conversa de café, entre amigos, alguém conta um episódio onde uma jovem Melinda interrompe de surpresa um jantar. Se para uns tal história tem o seu lado trágico, há quem só consiga ver o humor da situação. Nós, sortudos, temos direito às duas visões. Afinal, a visão daquilo que acontece no mundo, está sempre no olhar de quem vê.

O que Allen tem andado a fazer, desde sempre, é uma enorme sitcom, com episódios de hora e meia, de periodicidade, quase sempre, anual. Que lhe ofereçam de imediato um espaço semanal de meia-hora numa qualquer televisão e aí sim, teríamos finalmente Allen de regresso ao seu melhor. As ideias continuam lá, mas nem sempre chegam para preencher o tempo daquilo que é considerado normal no cinema. Deste vez, no entanto, quase que o conseguiu. E já não se pode considerar pouco.

Peter

É estranho que o filme que parece marcar uma tentativa de passagem por parte de Johnny Depp para papéis mais adultos, seja feita num filme que nos mostra a vida do criador de Peter Pan, o menino que não queria crescer.

No mundo de hoje em dia, é dificil ver um filme como À Procura da Terra do Nunca. A inocência, tão necessária para ver esta preciosidade, nunca foi tão mal vista. As carapaças que cada um veste no seu quotidiano, por protecção ou mania, talvez dificultem que um filme como este seja bem recebido e partilhado por todos.

O seu lado mais british prende sempre o filme mais ao lado real, relegando a fantasia para um segundo plano sempre pronto a vir ao de cima. Talvez seja isso que torne a entrada na Terra do Nunca tão especial e comovente. Quando a fantasia, finalmente, se mostra com todo o seu esplendor, já as nossas armas estão guardadas e esquecidas, algures no fundo dos bolsos de cada um. Realizadores como Spielberg ou Burton, este na sua versão antiga, teriam tornado este filme numa overdose de magia e encantamento, sem dúvida uma perspectiva aliciante, mas nunca teriam atingido o equilibro perfeito de Marc Forster, sempre no limbo, mas acabando por transformar À Procura da Terra do Nunca num fabuloso alerta de esperança de que afinal ainda é possível sonhar… de olhos bem abertos.

Por: Hugo Sousa

cinecorta@hotmail.com

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