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Comércio tradicional encara Páscoa com pessimismo

Falta de poder de compra é o fator mais indicado pelos comerciantes do nordeste da Beira para uma quadra pascal de «fraco negócio»

Em face do baixo volume de negócios que se tem vindo a verificar, os comerciantes da região não se mostram otimistas em relação a eventuais melhorias trazidas pela época pascal.

Ana Sobral, da pastelaria “O Trovador”, em Trancoso, refere que «o negócio está péssimo, muito mau mesmo, e aqui em Trancoso então está a morrer de dia para dia». Para esta comerciante, «uma das medidas para inverter isso poderia passar por deixar de limitar o estacionamento na Rua da Corredoura a patrões e funcionários, porque quando uma pessoa quer ir às compras, procura estacionar junto aos estabelecimentos, e como não podem estacionar aqui, vêm menos». «Além disso, as pessoas queixam-se que não vendem e que não vem ninguém, mas a verdade é que aos fins-de-semana, que é quando ainda passa alguma gente, têm a porta fechada. Excetuando eu e mais dois

comerciantes, está tudo encerrado», lamenta. «As pessoas de fora chegam a perguntar se isto é uma cidade, uma aldeia ou uma terra fantasma, e claro que vindo cá e deparando-se com portas fechadas, muito provavelmente não voltam», adverte, acrescentando que «antes as pessoas vinham e gostavam de Trancoso, e agora não é assim».

Ana Sobral considera que a crise «é mais uma desculpa do que uma causa, porque há muito dinheiro», e mostra «dúvidas» em relação à Páscoa. «Agora, ainda faltando alguns dias, não está a correr mal, há cá muita gente de fora, e sexta-feira santa também costuma ser um bom dia, mas no fim-de-semana de páscoa não se passa nada. A maioria das pessoas que se deslocam a Trancoso vem visitar a família e acabam por ficar por casa», refere. Jorge Fonseca, do restaurante Queda d’Água, também de Trancoso, diz que «na restauração, o negócio está fraquinho, muito parado, e muito pior relativamente aos anos anteriores». Para este comerciante, a culpa passa em certa medida pela comunicação social, pois «só fala em crise, e com isso acaba por meter medo às pessoas e retrair o consumo». Jorge Fonseca também não está otimista relativamente ao “poder” da quadra pascal para melhorar, ainda que apenas por alguns dias, o volume de negócios.

«Não se nota grande diferença, e já assim tem sido em anos anteriores, pelo que este ano não deve ser exceção», refere, salientando que «no domingo de páscoa nota-se mais movimento, mas isso não significa que haja mais negócio». «Muitas das pessoas que aqui se deslocam não são consumidores, vêm só passear, como é o caso daqueles a quem chamo de “merendeiros”: vêm nos autocarros, em excursões, comem a merenda, dão uma volta e vão-se embora», relata.

Ainda em Trancoso, Fernando Garcia, do minimercado e garrafeira Ângelo Ramos, Lda., afina pelo mesmo tom, dizendo que o negócio está «bastante mal». «Já há alguns anos que se fala em crise, mas desta vez é mesmo a sério. Não há poder de compra, e as pessoas não investem», afirma. «Passam turistas, mas não é turismo que facilite a vida ao comércio tradicional, pois compram muito pouco», lamenta. Para este comerciante, a Páscoa pode funcionar como um “balão de oxigénio”, porque «vêm alguns emigrantes passar a quadra, e isso reflete-se um pouco nas vendas». Uma situação que «ajuda, claro, mas não chega para resolver o problema»

Fernando Garcia aponta como uma possível causa o facto do comércio estar «ultrapassado», por não ter «aquele marketing que leva as pessoas a consumir, e isso, aliado à falta de dinheiro e à preocupação de poupar, resulta em vendas muito baixas». «Na parte da garrafeira, felizmente até se está a vender, mas a nível do minimercado, registo uma quebra de 70 ou 80 por cento», refere. Investir em estacionamento intra-muralhas e uma maior agressividade por parte dos comerciantes seriam duas medidas que poderiam «contribuir para alterar um pouco este clima de baixas vendas e desmotivação que se vive no seio do comércio tradicional», acredita Fernando Garcia. Este comerciante alerta também para o facto dos comerciantes não terem feito «uma adaptação às mudanças, pois agora toda a gente trabalha, e os dias para fazer compras passaram a ser o sábado e o domingo. Ora, acontece que, desde há muito tempo, o comércio fecha nesses dias para descanso semanal, e o que daí resulta é que, quando há alguma gente nas ruas para fazer compras, as lojas estão fechadas».

Queixas também na Mêda e Aguiar da Beira

Rosa Amado, comerciante na área da panificação do concelho de Mêda, deixa no ar uma questão: «Para quem é que o negócio está bem? Penso que só para 2 ou 3 por cento dos comerciantes a nível nacional é que a situação poderá estar razoável, enquanto todos os outros se debatem com dificuldades», acrescenta. Sobre a Páscoa, esta comerciante diz que «em anos anteriores costumava ser boa, e compensava de certa forma eventuais quebras que ocorressem ao longo do ano». No entanto, Rosa Amado dá agora conta de uma situação «diferente», e diz «não ter perspetivas, já que o Natal, que costuma ser a melhor época do ano, também foi fraco».

Fernando Fonseca, proprietário do Hotel Terreiro de Santa Cruz, em Carapito (Aguiar da Beira) também dá conta de um volume de negócios «fraco e abaixo das expectativas» ao nível do alojamento, enquanto na restauração «ainda vai havendo gente, mas também não é muita». Este comerciante espera por isso que a Páscoa «vá pelo mesmo caminho». «A crise e os apertos do governo fazem com que as pessoas optem por ficar em casa», conta.

Comerciantes de Trancoso reclamam «mais estacionamento» para a Rua da Corredoura

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