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Comerciantes esperam que o Natal traga melhorias ao negócio

Época natalícia e passagem de ano são encaradas como um “balão de oxigénio” pelos comerciantes da região do nordeste da Beira

Longe vão os tempos em que a época natalícia era sinónimo de muito movimento e boas vendas no comércio local. Ainda assim, em altura de crise e de “vacas magras”, os comerciantes da região continuam a olhar com expectativa para o Natal, esperando que os dias festivos estendam a sua animação ao negócio e representem um “oásis” no meio do deserto de fracas vendas que foi o ano que agora termina.

Fernando Lino, responsável da Ângelo Ramos, Lda., empresa trancosense que comercializa vinhos e produtos alimentares, diz «não ver perspetivas de melhoria» no que respeita às vendas, mas reconhece que «o Natal traz sempre consigo mais movimento e mais vendas» e que, por isso, continua «a olhar esperançadamente» para esta altura do ano. Contudo, este comerciante afirma ter «consciência de que o poder de compra está muito baixo» e nota que «quando esta época passar, vamos voltar ao mesmo». Mesmo para os dias natalícios, o otimismo de Fernando Lino é moderado: «Estou à espera de uma diminuição nas vendas de Natal na ordem dos 20 a 30 por cento», revela. A maior esperança deste comerciante passa pela «possível vinda de alguns emigrantes» para «agitar um pouco» as vendas.

Também em Trancoso, Fernanda Maltez, responsável pela Garrafeira Maltez, diz que «nem parece que está a chegar o Natal». «Gente não há quase nenhuma e as poucas pessoas que aparecem para comprar escolhem os produtos que são mais baratos», queixa-se esta comerciante. «Tenho cá os meus produtos à espera que os clientes venham, mas para já está tudo muito parado», continua. Contudo, Fernanda Maltez lembra que «há aquele comportamento normal dos consumidores de deixarem as compras para a última da hora, facto que é preciso ter em conta», pelo que para o Natal, a responsável conta com um nível de negócio «um bocadinho melhor». «Mas o Natal, apesar de ser uma ajuda, já não é como antes», sublinha esta comerciante. «Antes esperava-se pelo Natal, pelo mês de janeiro, pela Páscoa, e nessas alturas fazia-se negócio suficiente para compensar o resto do ano, mas agora já não é assim», conclui.

Menos otimista está José Veríssimo, da Ourivesaria Veríssimo. «Claro que no Natal se vende sempre mais um bocadinho mais e vai correr melhor que no resto do ano», admite o comerciante, mas acredita que a época natalícia deste ano «vai ser pior do que nos anos anteriores. E é claro que, mesmo vendendo um pouco mais nesta época festiva, sabemos que quando esta passar tudo voltará ao mesmo», afirma.

Já Armindo Janeiro, da empresa medense Vinho e Eventos, reconhece que «o negócio está péssimo» e que «há uma quebra notória», mas revela que na sua loja o panorama não é o mais desolador. «Não tenho tido muitas razões de queixa relativamente ao que vejo noutros estabelecimentos», diz este empresário. Quanto ao Natal, Armindo Janeiro considera que «é sempre uma boa época em termos comerciais», e que por isso tem «algumas expectativas». «Pelo menos para mim é sempre uma época muito positiva, pois faço muitos cabazes de Natal para enviar para França», adianta o responsável, acrescentando que vende para aquele país «cerca de um milhar de cabazes» por ano. Já no mercado interno, «o cenário é menos animador», refere Armindo Janeiro. «O ano passado notou-se uma quebra, este ano poderá acontecer o mesmo, mas sem dúvida alguma que esta época festiva continua a representar um “balão de oxigénio” para o comércio», diz o empresário, que ironiza dizendo que «devia haver pelo menos quatro natais por ano».

Em Aguiar da Beira, Maria Virgínia Gomes, da Quinta Costa Gomes, queixa-se sobretudo do «problema» que representou o aumento do IVA na restauração, «que afastou muitos clientes». A responsável pelo empreendimento de turismo rural acredita que esses efeitos «poderão estender-se à quadra natalícia». Maria Virgínia Gomes lembra também o despovoamento na zona de Aguiar da Beira, onde «muita gente foi obrigada a emigrar. Já somos uma zona pobre, e com as pessoas que foram embora, pior ficamos», acrescenta.

Para o Natal, a proprietária da Quinta diz que as expectativas «não são as melhores», mas que «até já há algumas marcações para a ceia de Natal, de grupos e empresas». «Espero que o quadro melhore, e que esta época permita compensar o “vazio” do resto do ano», refere Maria Virgínia Gomes.

José Alexandre, da Sabores da Serra, empresa de Celorico da Beira que comercializa produtos regionais, como o tão apreciado queijo da Serra ou os tradicionais enchidos, dá igualmente conta de «vendas um pouco baixas», devido ao facto de «o cliente preferir o artigo mais em conta». «Acreditamos que o Natal traga uma ligeira melhoria, mas o poder de compra é agora muito inferior ao de anos anteriores, principalmente em Celorico, onde a população vive muito à base da agricultura e do emprego familiar», destaca deste comerciante. José Alexandre perspetiva «vender um pouco mais» na época natalícia que se avizinha, para «beneficiar quem produz e resolver um pouco a situação económica do comércio local».

Portugueses vão gastar menos no Natal

O pessimismo reina entre os portugueses, em resultado do contexto económico e das medidas de austeridade aplicadas no último ano. Nesse sentido, os consumidores nacionais terão neste Natal um comportamento mais contido na hora de puxar os cordões à bolsa. De acordo com o estudo Xmas Survey da consultora Deloitte, os portugueses vão gastar menos 13,5 por cento nesta quadra natalícia comparativamente ao ano passado. O orçamento para este ano é de cerca de 464 euros por cada lar, com grande parte desta verba a ser canalizada para compra de presentes (cerca de 233 euros), seguidos dos produtos alimentares (162 euros). Este é o primeiro ano em que, em valores absolutos, os portugueses têm a expectativa de gastar menos do que os alemães, que estimam um orçamento de 485 euros.

Esta tendência vai ao encontro da indicada pelo Observador Cetelem, cujo estudo aponta uma redução de 35 por cento por cento nos gastos com presentes de Natal. Os portugueses querem gastar, em média, até 126 euros em compras de Natal este ano, menos 66 euros do que no ano passado, quando os consumidores tencionavam desembolsar até 192 euros. De acordo com este estudo, o valor médio a pagar por cada presente também desce, este ano, para os 25 euros, contra os 32 euros que os portugueses estavam dispostos a desembolsar por cada presente no ano passado. Ainda segundo o Observador Cetelem, 52 por cento dos inquiridos confirmaram que a austeridade irá afetar as suas compras de Natal, e 80 por cento dos consumidores afirma que vai gastar menos que no ano passado.

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