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Comandante operacional distrital da Guarda quer «bombeiros municipais»

Guarda revela disparidade entre número de elementos e médias de incêndios e área ardida

Para além de ser já o quinto do país mais fustigado por fogos de grande dimensão este ano, o distrito da Guarda está na lista dos que revelam maior disparidade entre o número de bombeiros e as médias de incêndios e área ardida na última década. Para o comandante operacional distrital (CODIS), António Fonseca, não é na quantidade de homens que está a causa da dimensão deste flagelo, mas sim na «realidade socio-económica». Porém, admite que o distrito precisa de bombeiros profissionais.

Na mesma situação de disparidade encontram-se Castelo Branco, Faro, Bragança e Viana do Castelo. Guarda e Castelo Branco são, de resto, os que têm as médias mais elevadas de área ardida nos últimos 10 anos. Contudo, enquanto que a Guarda tem 23 corporações e 1.420 voluntários, o distrito vizinho contabiliza 12 e apenas menos 18 elementos. «Isto acontece porque muitos dos corpos dos bombeiros da Guarda têm secções destacadas», explica António Fonseca. No entender do CODIS, «não existem poucos bombeiros» relativamente a outros distritos do país «quando se tem em conta o número de habitantes de cada um». De resto, «não deixará de haver fogos por haver mais bombeiros», sustenta. O problema dos fogos na Guarda está, segundo analisa, no «perfil populacional» e no facto de esta ser uma região ainda muito dependente do sector primário. «As queimadas e a necessidade de renovação das pastagens são uma realidade ainda muito forte na Guarda», constata. «Ou não fosse o maior produtor do queijo Serra da Estrela», lembra.

«O número de ignições tem de ser vista nesta perspectiva socio-económica da população, até porque o número de incêndios de nível natural é residual», refere, ao salientar que mais de 90 por cento dos fogos são de origem humana. Quanto à profissionalização dos bombeiros, considera que poderia contribuir para uma melhor organização do dispositivo. Isto porque, nota, o distrito só tem equipas de intervenção permanente na época mais crítica de fogos e os voluntários de hoje «não têm tanta disponibilidade como noutros tempos», em que o patronato não se importava que os trabalhadores acorressem a um sinistro em horário laboral. «Precisamos de ter bombeiros municipais como no litoral», defende António Fonseca.

Opinião semelhante tem o presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito da Guarda. «A profissionalização viria complementar o voluntariado, que não está em crise», afirma Gil Barreiros. Para além da população do distrito, a análise ao problema dos fogos tem de se «basear também na dimensão da área florestal de cada um», realça. «Não pode ser feita qualquer correlação entre a área ardida e o número de bombeiros», sustenta, ao lamentar que «sempre que há um problema são os bombeiros que são dados como culpados». Gil Barreiros salienta o facto de este ano o dispositivo distrital de combate a incêndios florestais ter sido reforçado, contando na fase Charlie, entre 1 de Julho e 30 de Setembro, com 606 elementos em permanência.

IIIªs Jornadas sobre incêndio de Famalicão decorrem hoje

A Casa da Cultura de Famalicão acolhe hoje, a partir das 9 horas, uma jornada sobre o violento incêndio que há três anos vitimou seis bombeiros. Nesta iniciativa, vão ser abordadas «novas informações relativamente ao início do fogo». As IIIªs Jornadas de Análise ao Incêndio de Famalicão da Serra contam com a presença de um dos maiores especialistas na área, Xavier Viegas, da Universidade de Coimbra. A organização é da Associação Amigos Bombeirosdistritoguarda.com (AABDG), Projecto Sérgio Rocha e Centro de Estudos de Incêndios Florestais (CEIF). Os trabalhos começam às 9 horas.

Distrito da Guarda é dos que regista mais área ardida na última década

Comandante operacional distrital da Guarda
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