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Coisas…

A dramatização à volta destas eleições tem atingido limites quase sem precedentes na curta história da democracia portuguesa. O clima de (quase) desespero manifestado quer pelos que estão à beira de deixar o poder, quer por aqueles que já lhe sentem o cheiro, tem levado a excessos de linguagem e de argumentação que, longe de esclarecer e atrair aqueles que votam, cria um ambiente de cada vez maior cepticismo, descrença e alheamento da coisa política.

Ninguém tem escapado à tentação do excesso e tem sido frequente o recurso a afirmações e tomadas de posição a raiar o insulto, a desconsideração pessoal e o desprezo pelos mais básicos princípios da democracia… e da boa educação.

Não constitui surpresa para ninguém que o líder do CDS e os seus pontas-de-lança utilizem uma linguagem demagógica, patrioteira, acenando com fantasmas e utilizando, em seu benefício, alguns dogmas claramente “de outros tempos”; não se esperava da parte de Santana Lopes outra coisa que não fosse um desempenho comicieiro, capaz de provocar histerias em “tias mal cobertas” ou tennagers fãs do Enrique Iglesias; era previsível que Sócrates tivesse mais cuidado que nunca com o cabelo e que se esquivasse o mais possível a dizer fosse o que fosse em concreto; do PCP já é tradição que escondam a foice e o martelo por trás de uns simpáticos girassóis, não vá o diabo tecê-las e perderem ainda mais votos; o BE adopta um estilo soft que não assuste e aposta tudo na figura de Louçã, com aquele estilo de quem não parte um prato mas que, para meu desgosto, caiu que nem um patinho na armadilha de Portas na discussão sobre o aborto e cometendo o pior erro que um democrata pode cometer: tirar legitimidade ao adversário para discutir uma determinada matéria.

Pois é, ninguém escapa. E o mais quente ainda está para vir.

Aqui na terra a coisa ainda vai morna mas esperemos para ver de que forma vão os socialistas fugir ao incómodo tema do novo hospital (constou-me, aliás que Pina Moura já vai dizendo que isso não deve constituir o principal assunto da campanha aqui na Guarda. Por que será?). Ana Manso, à semelhança do seu líder, trava aqui um duplo combate: não perder por muitos (não nos esqueçamos do banho que levou nas europeias, muito superior ao do seu partido no resto do país) e não ficar depois à mercê dos seus próprios correligionários que há muito lhe rogam pela pele. Aguardemos pela forma como os populares se vão adaptar aqui às directivas que vêm de Lisboa de não agressão ao parceiro de coligação; e, já agora, se os comunistas não vão perder mais tempo a tentar convencer o BE a desistir do que a atacar as ideias dos partidos da direita; e, finalmente, vejamos do que é capaz a malta nova do BE que, por estar em crescimento e não dever ainda nada a ninguém, tem obrigação de ajudar a manter um certo nível de que a nossa pobre democracia bem está precisada.

Boa sorte para todos e que ganhe o melhor.

Por: António Matos Godinho

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