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Coisas…

Mais uma vez a cidade da Guarda teve a honra de receber a visita de um ministro. Um ministro de 2ª, assim tipo pimba, mas ainda assim, um ministro. Não veio prometer hospitais, pediatras ou maternidades mas sim reunir com militantes do partido, distribuir uns sorrisos e, principalmente, fazer aquilo em que se especializou nos últimos tempos: fugir com o rabo à seringa.

Este ministro, coitado, desde que se meteu (ou o meteram) naquele assado de fazer calar o Marcelo, não consegue outra coisa que não seja tentar, de forma patética, arranjar justificação para o injustificável, explicação para o inexplicável, silêncio para o estrondo que causou. Passará à história como o “ministro do contraditório” e será, inevitavelmente, uma das imagens de marca deste pobre governo.

Na reportagem que a televisão passou, conseguia entrever-se, por cima e por trás do ombro esquerdo do ministro, a carita da Dra. Ana Manso abanando para cima e para baixo como que concordando com cada pérola debitada pela vedeta do momento. Essa concordância acentuou-se no momento em que o ministro respondeu, da melhor forma que encontrou, à inevitável pergunta do jornalista: “… blá, blá, blá, … caso Marcelo?” A resposta, a tal que mereceu o aplauso interior e sentido dos figurantes, não podia ter sido mais brilhante: “Estou aqui para falar do futuro e não do passado. O passado não interessa.” E com esta, calou o jornalista.

Utilizando o tal princípio do contraditório que em Portugal já serve para calar o bico a quem não diz aquilo que se quer que seja dito, poderá dizer-se que o ministro não tem razão e que o “futuro não interessa; apenas o passado”, ou que “nem o passado nem o futuro interessam; apenas o presente”. Ou ainda que, quando metemos o pé na argola, queremos é que não nos chateiem com isso.

Já tudo foi dito sobre o caso Marcelo, pelo menos tudo o que interessa à essência da coisa. No entanto, e ao contrário do que a maioria afirmou, a liberdade de expressão saiu reforçada com esta atoarda de um indivíduo que será lembrado na galeria de alguns “notáveis” que o PPD tem o hábito de fornecer à história. Se bem se lembram, houve um que se recusou a propor o Saramago para um prémio literário por causa do tom herético de um certo livro; houve um outro que ouviu Chopin a tocar violino e outro ainda que suspendeu um programa do Herman por que o homem fez troça da rainha Santa, coitadinha. Ah! Quase me esquecia: a tal que abanava a cabecita por cima do ombro do ministro enquanto este se descartava do passado e do jornalista, também figurará na tal galeria de notáveis laranjas, como aquela que um dia fez de uma orelha de um adversário a sua mais forte arma política numa qualquer campanha eleitoral.

Afinal o passado interessa, quando a memória não é curta!

Por: António Matos Godinho

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