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Os acontecimentos das últimas semanas relacionados com o hospital Sousa Martins e que, directa ou indirectamente, envolveram o seu conselho de administração, puseram a nu uma série de evidências, reconhecidas agora por muitos que durante demasiado tempo se mantiveram à margem de tudo o que ia sucedendo. Restam já poucas dúvidas de que a vocação, a capacidade e a competência das pessoas que se encontram à frente dos destinos do hospital, não primam pela abundância. No entanto, conclui-se que, provavelmente, nem será este o principal busílis da questão; imediatamente acima na hierarquia encontra-se o Presidente da ARS do Centro, o Dr. Fernando Andrade que, muito a contra-gosto, se viu envolvido nas polémicas e foi forçado a deslocar-se à Guarda para apagar um fogo que ameaçava alastrar sem remédio. Foi pior a emenda que o soneto.

Colocado perante a trapalhada do abre-fecha da maternidade, optou por alinhavar um discurso habilidoso, baseado em falácias e estórias mal contadas e acabou por se enterrar responsabilizando os obstetras e as “suas exigências” pelo sucedido. Uma semana depois, os médicos do serviço, indignados, vieram a público desmenti-lo e repor uma verdade que só não vê quem não quer: o serviço de pediatria não existe, a urgência pediátrica não passa de uma manobra de propaganda e este conselho de administração é impotente para resolver o problema. Mas a coisa vai mais longe: o Dr. Fernando Andrade confirmou aquilo que já sabia há muito, ou seja, que este conselho de administração prejudica seriamente a imagem do partido. Os anúncios à boca pequena feitos pelo responsável regional da saúde de que viria à Guarda cortar o mal pela raiz e substituir estas pessoas, esbarraram na inexistência de substitutos, sendo o político obrigado a dar o dito (em privado) pelo não dito (em público) e ficar a torcer para que os episódios seguintes não o comprometessem ainda mais. Teve azar.

Como uma avalanche, caíram-lhe em cima os casos do encerramento da Unidade de Cuidados Intensivos por falta de médicos, o caso do familiar do director clínico (de que já tinha conhecimento oficioso há muito tempo) e o enxovalho público que constituiu a carta aberta dos obstetras.

Tomando como exemplo o sucedido nos hospitais da Figueira da Foz e Viseu, o Presidente da ARS confiou na aparente paz garantida pelos directores dos serviços do hospital. Se nos casos dos outros dois hospitais foram estes que forçaram a mudança, por cá não forçaram coisa nenhuma limitando-se a assistir impávidos e serenos à bagunça que grassava à sua volta. Fernando Andrade confiou nessa passividade e partiu como veio, sem nada mudar, com um discurso vago e palavras em que poucos acreditaram. Esqueceu-se, no entanto, de alguns pormenores: os directores de serviço não representam os médicos, a sua passividade não faz desaparecer miraculosamente os problemas e, principalmente, não injecta classe em quem não a tem.

Se Fernando Andrade, o conselho de administração, o PPD e o governo têm o que merecem, já o mesmo não se pode dizer deste hospital, desta terra e desta gente da Guarda.

Mas, por que é que as legislativas não vêm já amanhã…?!

Por: António Matos Godinho

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