A PSP e a GNR da Guarda não tinham recebido, até à passada terça-feira, qualquer queixa de clonagem de cartões Multibanco no distrito. O mesmo acontecendo na zona da Covilhã, onde o comissário António Monteiro adianta que a polícia já fez «alguma prevenção» nas caixas e nas ATM dos postos de combustível. Contudo, as autoridades estão de sobreaviso depois dos casos denunciados anteontem em Castelo Branco e aconselham os utilizadores a ter precauções redobradas nas transacções ou nos levantamentos. «Todo o cuidado é pouco», alerta o comandante da PSP da Guarda.
Luís Viana estima haver «grandes probabilidades» de casos similares ocorrerem no distrito, pelo que recomenda aos habitantes que não percam os cartões de vista «em nenhum momento das transacções» nos espaços comerciais e ocultem sempre a marcação do código pessoal. Uma cautela a ter também nas caixas Multibanco, cuja autenticidade deve ser verificada antes de serem usadas. «Toda a suspeita, anormalidade ou alteração deve ser comunicada de imediato às autoridades e ao respectivo banco, para além de ser impeditiva de efectuar qualquer operação», indica, aconselhando as pessoas a privilegiar as transacções em dinheiro sempre que se tratar de pequenas quantias. Já o major António Almeida, comandante interino do Grupo Territorial da GNR da Guarda, acrescenta a estas precauções uma atenção «redobrada» às movimentações dos funcionários de estabelecimentos comerciais e bombas de gasolina, bem como aos pontos de pagamento. «Os consumidores devem alertar as autoridades para equipamentos e comportamentos estranhos», refere, reconhecendo que a GNR não está «tecnicamente preparada» para fiscalizar os Multibancos. «Compete mais aos operadores bancários vistoriar os equipamentos e identificar as situações anormais. Se calhar através dos próprios funcionários das agências», sugere.
Tudo porque a clonagem de cartões Multibanco chegou esta semana a Castelo Branco, depois de centenas de queixas do mesmo género terem sido registadas nos distritos de Santarém e Leiria. «Verificaram-se nos últimos dias clonagens e posterior uso fraudulento de cartões em número ainda não quantificável», revelou o comandante da PSP albicastrense. Sem adiantar o número de queixas «para não prejudicar a investigação, centralizada na Polícia Judiciária», José Poças Correia disse que estas foram apresentadas desde o passado fim-de-semana. «Até este momento não sabemos qual a dimensão do fenómeno em Castelo Branco. As pessoas só se apercebem quando os levantamentos são feitos, mas não se sabe quando os cartões foram clonados. Teoricamente, será um período curto», sustentou, acrescentando que, segundo informações recolhidas pela polícia, alguns dos lesados «não apresentam queixa» e «resolvem a situação directamente com o seu banco». Por seu turno, fonte da GNR de Castelo Branco confirmou ter sido apresentada uma única queixa, na passada segunda-feira, por um cidadão que terá sido lesado em 200 euros. Suspeita-se que o queixoso utilizou o cartão para pagamento num posto de combustível da cidade. «Pagou a gasolina e a seguir levantaram-lhe dinheiro da conta», disse a mesma fonte.
A praga do “skimming”
PJ continua diligências para identificar e localizar autores da clonagem de cartões Multibanco
Os casos detectados estão relacionados com a prática do chamado “skimming”, que consiste na colocação de dispositivos de leitura falsos com o intuito de copiar a informação contida no cartão Multibanco original. Em comunicado, a PJ garante estar a desenvolver diligências para identificar e localizar os autores dos crimes de contrafacção (de cartões bancários) e de burla informática (levantamentos indevidos) que têm vindo a ocorrer em vários pontos do país.
«Trata-se de um modo de actuação já anteriormente utilizado e conhecido da Polícia Judiciária, pelo que se recomenda aos utilizadores do sistema de levantamento automático maiores precauções na utilização dos equipamentos observando, nomeadamente, a autenticidade da caixa Multibanco e ainda a título de precaução ocultar a marcação do código pessoal (PIN)», refere a Judiciária. E para evitar situações deste tipo sugere ainda a utilização de caixas com câmara de vigilância ou situadas no interior das agências bancárias, assim como evitar terminais que apresentem algo de invulgar ou estejam vandalizados. Para a Sociedade Interbancária de Serviços (SIBS), o método utilizado é típico «da actuação de redes internacionais de crime organizado operantes em todo o mundo». Contudo, a entidade que gere o sistema de Multibanco afirma que a rede portuguesa de cartões bancários «continua a apresentar elevados indicadores internacionais de segurança».
Anteontem soube-se também que o número de queixas de clonagem de cartões Multibanco registadas desde a semana passada no Cartaxo (Santarém) e na Benedita (Alcobaça) subiu para 248. Entre sábado e a última terça-feira surgiram 17 novas denúncias, informaram a PSP e GNR. No total, registaram-se 50 casos no distrito de Santarém e 198 em Leiria. Mas a SIBS informou entretanto que cerca de 300 cartões foram «afectados por transacções indevidas» entre os dias 2 e 6 de Agosto em terminais de pagamento automático ao ar livre em bombas de gasolina na Benedita e no Cartaxo. Em Portugal circulam 17 milhões de cartões bancários, 15 milhões dos quais de Multibanco, que são responsáveis por 1,5 mil milhões de transacções por ano.
Luis Martins