Arquivo

«Cine’Eco tem uma grande projecção internacional»

Cara a Cara – Entrevista

P – Quais as suas expectativas para a décima edição do Cine’Eco?

R – Para além de manter a qualidade em termos dos filmes a concurso, o Cine’Eco irá seguramente agradar ao público cinéfilo de Seia. Parte dessa cinefilia também é resultante das edições anteriores do festival, que conseguiram trazer à cidade muitos filmes que habitualmente as pessoas não viam, nem vêem no circuito comercial. Não tenho dúvidas que será uma edição com grande êxito, tendo em conta os filmes a concurso e, principalmente, as várias temáticas e as iniciativas paralelas programadas. Quero destacar o I Encontro Internacional de Ambiente e Audiovisual no dia 22, onde vamos reunir várias entidades. Irão abordar-se as relações entre os cinemas do ambiente e as questões ligadas à ecologia e à preservação da natureza, enquanto outro painel tem como tema a “Poluição no Audiovisual”.

P – Esse I Encontro Internacional é uma mais-valia na edição deste ano do Cine’Eco?

R – Penso que é uma excepção entre os grandes objectivos do Cine’Eco. Além de se mostrar aquilo que melhor se faz em termos de produção cinematográfica e de vídeo na área do ambiente e na perspectiva antropológica, com o homem como centro do ambiente com todos os problemas que ele atravessa nessa vivência, nomeadamente o terrorismo, a questão da paz, da SIDA, da fome. Enfim, a maior parte dos filmes abordam essas temáticas. Há muitos filmes do Brasil que relatam a realidade brasileira, as grandes cidades, em contraste, por exemplo, com outros que abordam a vida na Amazónia e a necessidade de protecção desse último paraíso da humanidade.

P – Não é cada vez mais difícil seleccionar os filmes que vão participar na competição oficial, atendendo à quantidade recebida?

R – Sim. Nós temos vários países representados, desde a Alemanha, França, Lituânia, quase todos os países da União Europeia, Estados Unidos, Estónia, Índia. Temos um conjunto de mais de 20 países representados. Recebemos mais de 200 filmes este ano e não é fácil fazer esta selecção. O critério seguido para a selecção é exactamente a qualidade que, concerteza, tal como o júri que depois analisa os filmes, será sempre subjectiva, mas já são 10 edições e portanto acho que há uma garantia de qualidade e de fazer passar à selecção final os melhores filmes e obras a concurso.

P – São dez anos em que o prestígio granjeado pelo festival tem crescido cada vez mais?

R – Penso que sim, nomeadamente tendo até em conta a não necessidade que temos em fazer muita publicidade ao Cine’Eco em termos de possíveis concorrentes. Toda a gente sabe quando decorre o festival, as produtoras prestigiadas procuram-nos e logo em Maio/Junho começam a enviar-nos e-mails e a manifestar o seu interesse em participar neste festival.

P – No entanto, as dificuldades financeiras e a falta de apoios têm-se feito sentir. Como é que tem sido possível fazer face a este cenário?

R – Graças a um esforço hercúleo da Câmara de Seia que percebeu que o Cine’Eco é uma mais-valia na projecção da cidade a nível nacional e não só. Os vencedores dos prémios e o catálogo dão a volta ao mundo e dão a conhecer, não só o festival, mas também Seia e toda a sua região e potencialidades. Depois, já passaram por aqui centenas de pessoas a nível de júri de toda a parte do mundo. Também eles, líderes de opinião, divulgam as boas impressões que têm levado de Seia, porque nós temos uma hospitalidade inegável, o que faz com que as pessoas queiram regressar. Claro que o grande problema do Cine’Eco é o orçamento e a Câmara, com uma contenção a gerir muitas despesas, está hoje a fazer o festival praticamente sozinha.

P – Para o futuro, há vontade de continuar a crescer?

R – Sim. Ultimamente tenho tido algumas notícias de que o Instituto do Ambiente poderia voltar, ou seja, as actividades governamentais ligadas à educação ambiental. Como se sabe, o Instituto de Promoção Ambiental, que tinha uma grande participação em termos de apoio ao festival, foi extinto e não foi ainda possível substitui-lo por um apoiante institucional. O Cine’Eco tem vivido de apoio institucional, não de empresas privadas. Não foi possível ainda substitui-lo, mas penso que haverá agora uma forma de o fazer. Nós temos já uma grande projecção internacional, mesmo a nível de protocolos com outros festivais, como do Brasil e da Grécia, e isso também é relevante. Inclusivamente, pensa-se fazer um grande encontro da concentração dos festivais do ambiente, na qual o Cine’Eco será um dos organizadores e um dos principais impulsionadores.

Sobre o autor

Leave a Reply