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Cinecoa, para «devolver o cinema ao povo»

Uma dezena dos cerca de 20 filmes exibidos no festival foram rodados na região

Há filmes que vêm do lugar onde o cinema nasceu, outros dão-nos a conhecer recantos portugueses que julgamos demasiado longe, há ainda os que simplesmente nos fazem rir, sem demoras. A magia de Charles Chaplin, o encanto da obra dos Irmãos Lumière – num tempo em que o som ainda estava longe da imagem – e o extenso trabalho do realizador Manoel de Oliveira são alguns dos “ingredientes” que ajudam a criar o primeiro Festival Internacional de Cinema de Foz Côa, que se realiza entre hoje e domingo. Na opinião do seu diretor artístico, o Cinecoa é também uma tentativa de «devolver o cinema ao povo».

João Trabulo considera que a arte cinematográfica está demasiado «afastada das pessoas». «Os festivais costumam passar filmes muito herméticos, com conceitos demasiado abstratos», explicou a O INTERIOR, acrescentando que foi por essa razão que escolheram “outro caminho” no Cinecoa. Demarcar-se dos demais era um objetivo premente. «Teria que ser algo diferente. Queríamos um festival que evocasse os primórdios do cinema, com projeção de filmes dos Irmãos Lumière como primeiras exibições públicas, até ao que é feito nos nossos dias, sem esquecer a nata do cinema português. Pareceu-nos essencial fazer uma homenagem a Manoel de Oliveira e António Reis», lembra o realizador que atualmente se dedica ao cinema independente, através da sua produtora Periferia Filmes. Esta vontade veio ao encontro das intenções da autarquia, que pretendia criar um evento que pudesse contribuir para «colocar Vila Nova de Foz Côa no mapa». Da arte rupestre ao cinema foi um passo. O presidente da autarquia entende que o património arqueológico do concelho não deve permanecer isolado e, nesse sentido, defende a sua integração em eventos que possam chamar mais gente à região. «Há certas pinturas rupestres que quase parecem ter movimento e podemos até encontrar uma ligação entre estes primórdios e o cinema. No fundo, vamos aliar a primeira à sétima arte», considera Gustavo Duarte. Além de atrair a atenção de gente de fora e engordar os números das visitas turísticas, o autarca acredita que o festival é também um meio essencial para «proporcionar aos residentes um contacto com uma arte a que nem sempre têm acesso».

A visão de João Trabulo segue o mesmo caminho. O cineasta destaca a oportunidade que os fozcoenses têm, nesta edição, de assistir a «filmes raros e únicos». E para que a sétima arte se aproxime dos lugares e das suas gentes, 10 dos mais de 20 filmes escolhidos foram rodados na região. Esta ligação faz-se ainda através do Museu do Côa, onde decorrem algumas das sessões do festival (ver caixa). Segundo o presidente da autarquia, o investimento no Cinecoa não será «avultado», tendo em conta os tempos de contenção orçamental. «Estamos a apontar para cerca de 20 mil euros», adiantou. O festival é uma organização da autarquia, com direção artística de João Trabulo e o curador da mostra é António Rodrigues, da Cinemateca Portuguesa.

Cinema dos «oito aos 90 anos»

João Trabulo explica que a programação não é extensa, mas pretende ser «evocativa da sétima arte ao longo de 120 anos» e pretende-se atrair público desde «os oito aos 90 anos. “Ana”, de António Reis, é exibido hoje às 15h30, no auditório municipal, seguindo-se o Programa Charles Chaplin, pelas 18h30. “Vale Abrãao”, de Manoel de Oliveira está agendado para as 21 horas. A manhã de sexta-feira é dedicada aos mais novos com “Ponyo à Beira Mar”. Às 15h30, é a vez de “Trás-os-Montes”, famosa película de António Reis e Margarida Cordeiro. Segue-se, pelas 18h30, “Les Pieds Nus Dans Les Limaces”. Pelo meio, há tempo para “Maria do Mar”, de Leitão de Barros, um filme que será musicado por Bernardo Sassetti e Filipa Pais. Pelas 16h30, há conversa com a atriz francesa Ludivine Sagnier e, no dia seguinte, com o ator Jacques Fieschi. São ainda exibidos os filmes “Rosa de Areia”, de António Reis e “Lumière”, musicado por Red Trio (23 horas). O festival encerra com “Douro, Faina Fluvial”, pelas 21 horas.

Catarina Pinto

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