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Cinco para a meia-noite

Cinco para a meia-noite. Muito mais do que um programa de televisão, cinco para a meia-noite representa o momento em que, se pudessem ser convertidos os níveis de adrenalina dos “pré-universitários” em dinheiro, estaríamos perante a maior recuperação económica da história. Dedos hiperactivos, “cliques” frenéticos e ratos exaustos precedem o momento em que os resultados das colocações sossegam almas inquietas. Finalmente, aquele irritante site hiperlotado pede-nos que coloquemos o nosso nome. E aí ocorre mais um fenómeno interessantíssimo: esquecemo-nos de como se escreve o nosso nome. Um “s” a mais, um til a menos… tudo serve para atrapalhar o grande momento. Pressionamos o “enter” e “voilà”: a palavra colocado… ou uma incrível decepção!

Quando o “ecrã” é nosso amigo e nos mima com o bonequinho azul a saltitar entramos num labirinto. Quanto à saída, penso que existe uma panóplia de opções: a) Rimos ou choramos de alegria porque era mesmo aquele curso, mesmo aquela cidade; b) Rimos ou choramos num misto de alegria e dúvida porque até era aquele curso mas queríamos ir para outro local; c) Entrámos na cidade pretendida e o curso… bem isso logo se vê; d) Não era nada daquilo que queríamos e instala-se a incerteza; e), f), g) e h) tudo o que quiserem imaginar porque a mente de um pré-universitário não é uma caixinha de surpresas: é um caixote! Independentemente de como saímos do labirinto uma coisa é certa: a nossa vida está prestes a mudar… irreversivelmente!

Nas semanas que se seguem é um corrupio. Há que escolher uma casa e este momento pode ser uma jogada de sorte, uma aventura, uma comédia ou até mesmo um filme de terror. Entre praxes e saídas à noite que lembram pipocas (quando se come a primeira dá vontade de devorar o balde), apercebemo-nos que na sala não está um pai a dizer “há meia-noite quero-te em casa”, nem uma mãe com o seu “arruma o quarto já”. A juntar a tudo isto somos as novas fadas-do-lar: tachos esturricados, toalhas que eram brancas e que a máquina-da-roupa devolve verdes… enfim, mil e uma experiências inesquecíveis.

A cada sexta-feira, por todas as cidades que nos acolhem, ouvem-se rodas de malas a deslizar pelas calçadas. Uma, duas, três, quatro horas de viagem e… Guarda, estamos de volta! A noite de sábado está reservada para os amigos conterrâneos. De um momento para o outro passamos a ser os mais velhos nos cafés da nossa cidade e deixamos de conhecer os vizinhos da mesa do lado. Ri-se, aniquilam-se as saudades, contam-se histórias hilariantes! Sim, porque a nossa pequena cidade desperta as mais caricatas questões, afirmações. Usar determinadas conjugações verbais, como por exemplo “vós ides” é para alguns dos nossos colegas de faculdade uma novidade, saber se a Guarda tem caixas-multibanco uma enorme dúvida e levarem-nos “pela primeira vez” ao cinema um enorme desejo.

Por tudo isto e muito mais, os primeiros anos de faculdade são verdadeiros menus de degustação. E se as novidades e oportunidades que as outras cidades têm para nos oferecer se tornam o prato principal, não podemos nem devemos desvalorizar a sobremesa, que remata na perfeição a nossa refeição, a nossa semana: a sempre nossa Guarda! Usufruam da, agora, nossa sobremesa não temendo a obesidade porque rapidamente sereis vós os detentores de um novo menu.

Maria João Lopes

Ex-aluna da ESAA

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