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«Cinco mil assinaturas demonstram a preocupação dos cidadãos perante a venda da AdC»

Cara a Cara – Entrevista

P – Cinco mil assinaturas recolhidas contra a privatização da água da Covilhã, em pouco menos de um mês, é um recorde?

R-Não, não é um recorde. Estas cinco mil assinaturas demonstram apenas a preocupação dos cidadãos perante este interesse da autarquia em vender os 49 por cento da Águas da Covilhã (AdC).

P-Mas este movimento não vai parar por aqui. Que medidas ponderam ainda tomar?

R-Para já, vamos continuar com a recolha de assinaturas. Ainda não foi discutida, por enquanto, nenhuma outra medida, até porque este é um movimento cívico espontâneo que pretendia apenas permitir às pessoas do concelho manifestarem-se. Naturalmente, que há alguns cidadãos a favor da venda da AdC, mas a grande maioria, pela amostra que conseguimos, está contra. E, neste momento, o abaixo-assinado é a única forma das pessoas se manifestarem porque não é possível que cada uma das pessoas se desloque à Câmara Municipal e demonstre a sua posição contrária a esta intenção.

P-Acha que os cidadãos estão esclarecidos sobre este assunto?

R-Estão preocupados e creio que alguns estão esclarecidos. Algumas pessoas do movimento circularam por vários pontos do concelho a reunir assinaturas e, pelo que nos foi dado a entender, as pessoas estão, na sua grande maioria, esclarecidas. E aqueles que não estão tanto, mostram interesse em saber mais sobre o que se passa. Mas no geral, sentem-se preocupados e não concordam com a venda de capital da AdC e, espontaneamente, aderem a este movimento cívico.

P-Consideram que a Câmara da Covilhã deveria promover uma discussão pública sobre o assunto com os cidadãos?

R-Penso que sim. Somos todos cidadãos do concelho, alguns naturais e outros residentes, mas todos sentimos esta preocupação. Pensamos que deveria haver uma discussão aberta a todos os cidadãos interessados. Para além de cidadãos, somos também eleitores, e o que esperamos é que os autarcas sejam sensíveis às nossas opiniões. Somos da opinião de que essa discussão deve ser feita, principalmente, em questões importantes e graves como a questão da água, que é um bem essencial à vida e que deve ser gerido pelos poderes públicos.

P-Nesse sentido, concordam com a ideia do referendo que já foi, aliás, defendido por alguns movimentos cívicos e partidos políticos?

R-Todos os cidadãos devem participar neste processo e o referendo é uma hipótese. Mas nós pensamos que a água não é referendável. É um bem inalienável e que não pode ser prescindido. Por isso, pensamos que o importante é dizer aos nossos governantes locais que é preciso parar com a intenção de privatizar porque a água é de todos os cidadãos do concelho. E, por isso, não pode ficar na mão de uma empresa que a vai gerir conforme os seus interesses. E naturalmente que uma empresa privada tem interesses lucrativos. Nós ficaremos então com a factura, que já é pesada, e a empresa ficará com os lucros.

P-O aumento do preço da água é o vosso maior receio?

R-É um dos receios que também é apontado pela maior parte das pessoas que assinam o abaixo-assinado. A outra preocupação, que na minha opinião é a mais importante, é a perda do bem público. A água potável é um bem que tem de ser acessível a todos os cidadãos e seres humanos.

P-Tendo em conta que as negociações para a venda de 49 por cento da AdC se encontram a decorrer, o que é que o movimento poderá fazer para evitar a concretização do processo?

R-A única coisa que vamos tentar fazer é sensibilizar cada vez mais pessoas para que o movimento aumente. As cinco mil assinaturas foram apenas simbólicas e vamos continuar a recolhê-las pelo concelho e através da Internet no sítio aguapublicacovilha.blogspot.com. Não podemos fazer muito mais e não temos intenção de criar alguma guerrilha com a Câmara. O que queremos é sensibilizar para este problema que é de todos os cidadãos e mostrar que a esmagadora maioria está preocupada com esta questão. Este bem é inalienável e é irreversível. No futuro, a Câmara vai deixar de poder gerir de uma forma aberta, transparente e pública este bem. Os 51 por cento da autarquia não dão garantias de nada. Neste momento, serão vendidos 49 por cento, mas nada nos garante que no futuro não precisem e não queiram vender mais alguma percentagem da AdC.

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