«Algum de vós quer ser presidente da Câmara quando for grande?». Todos responderam em uníssono que não. «Dá muito trabalho», admitiram aos jornalistas as cinco crianças que, na última sexta-feira, acompanharam de perto o trabalho do presidente da Câmara da Covilhã, restantes vereadores e funcionários da autarquia.
Tiago Fabião, Benedita Pombo, André Martins, João Pedro Esteves e Nicole Geraldes foram os cinco alunos do sexto ano de escolaridade seleccionados pelos Agrupamentos de Escolas do concelho para participarem na iniciativa “Um Dia com o Presidente”. A actividade, inédita na autarquia, pretendeu mostrar aos mais novos «como é o dia de um presidente de Câmara», mas também transmitir-lhes «a pedagogia da democracia e a promoção dos ideais democráticos», salientou Carlos Pinto. Contudo, os resultados foram surpreendentes. «Eu não quero ser presidente porque não quero desiludir as pessoas. O que nos preocupa são as manifestações», garante Benedita Pereira, 11 anos, da Escola do Tortosendo. Uma opinião partilhada pelos colegas de jornada, que logo começaram a rir. Esta resposta foi dada após terem assistido a uma boa parte da reunião do executivo. Aí ficaram a conhecer as queixas dos munícipes e assistiram à discussão dos pontos da agenda. Uma “aula viva” que não vão esquecer tão depressa.
Aparentemente, todos gostaram «muito» da sessão, apesar de a terem achado um «pouco longa», e rumaram depois para uma visita guiada às instalações dos Paços do Concelho. «O que mais me chamou a atenção na reunião foi o projecto do aeroporto», revelou Tiago Fabião, 10 anos, aluno na Escola Pêro da Covilhã, e o mais falador do grupo. «É que assim, quando quisermos viajar para outras cidades, não teremos que nos deslocar ao Porto e a Lisboa», acrescentou. Este tema, levado à sessão para a abertura do respectivo concurso público, foi também o que mais entusiasmou João Pedro Esteves, 11 anos, da Escola Básica de S. Domingos, e André Martins, 14 anos, da Escola do Paúl. Já Benedita e Nicole, ambas da escola do Teixoso, ficaram mais sensibilizadas com as preocupações dos munícipes.
Visitas guiadas e assinatura de despachos
Depois da visita guiada, seguiu-se a habitual conferência de imprensa. Mas não foi aos jornalistas que Carlos Pinto teve mais dificuldades em responder, mas sim ao Tiago. Munido do seu bloco de notas, onde apontou tudo o que se passava, o jovem começou por pedir uma bancada para o campo de jogos da sua escola, que o presidente prometeu analisar «com muita atenção» se o pedido chegar ao seu gabinete, até porque se trata de um assunto que não é da responsabilidade da autarquia. Vieram depois outras perguntas: «Quais as suas funções?», «Qual a mais difícil?», «Há quanto tempo é presidente?», «É difícil ser presidente de Câmara?». «Já levo isto com uma “perna às costas”. É como os jogadores de futebol: há muitos anos que treino fintas», respondeu, irónico, o autarca depois de explicar que ocupava o cargo há 13 anos. Já a tarefa mais difícil é «saber se estamos a ser capazes de fazer o que as pessoas esperam de nós». Por sua vez, Benedita aproveitou a ocasião para questionar o edil sobre a falta de um pavilhão gimnodesportivo na sua escola.
«Para fazermos Educação Física temos que usar o do Unidos [do Tortosendo], que fica do outro lado da estrada», justificou. E Carlos Pinto respondeu: «Não percebo porque é que a escola não quer utilizar o do Unidos, que é um equipamento moderno e fica do outro lado da escola», afirmando que não há dinheiro para construir outro. «Mas, se for preciso, disponibilizo funcionários para vos ajudar a atravessar a estrada», sublinhou. As perguntas também fizeram parte da ementa do almoço, que decorreu num ambiente bem descontraído, e durante o qual Carlos Pinto aproveitou para conhecer melhor os seus convidados. E o presidente bem pode ficar descansado porque, apesar das perguntas, nenhum ambiciona ser jornalista, mas sim médicos, veterinários, desenhadores de automóveis e engenheiros civis. Durante a tarde as crianças visitaram as instalações da Águas da Covilhã, as piscinas municipais e assistiram à assinatura de despachos no gabinete do presidente. Ali ficaram a saber pormenorizadamente o que se deve responder a cada ofício, carta ou convite. A iniciativa deverá continuar no próximo ano.
Liliana Correia