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Ciência Política

mitocôndrias e quasares

Passou mais um ano sobre os atentados de 11 de Setembro ao World Trade Center e ao Pentágono sem a orgia informativa dos anos anteriores. Na sequência desta data assisti há dias no Teatro Municipal da Guarda, seguido de um debate, ao documentário “Loose Change”, que defende a tese de que estes atentados foram um acto de auto-terrorismo.

Teorias da conspiração à parte, um dos aspectos do debate que me despertou mais interesse foi a discussão do papel dos cientistas. Os homens da ciência participaram na investigação que se seguiu aos atentados procurando explicar alguns fenómenos físicos associados a esta catástrofe, como sejam a temperatura que suportavam os materiais que faziam parte da estrutura das duas torres e do avião que se despenhou contra o Pentágono, ou o porquê de uma queda tão “perfeita” das duas torres.

A determinada altura é questionada a validade das afirmações de alguns cientistas que surgem no documentário, uma vez que esses mesmos cientistas ou os seus pares vieram refutar as afirmações iniciais conduzindo o debate e os respectivos argumentos para a validação e verificação as afirmações proferidas pelos diversos cientistas.

A tentativa de trazer a ciência para o seio desta discussão tem como objectivo procurar um argumento lógico, factual e irrefutável que suporte todo o edifício argumentativo que nós construímos sobre premissas ideológicas. Dito de outro modo, procuramos factos mensuráveis, quantificáveis, que suportam as afirmações baseadas numa análise ideológica, que não raras vezes é parcial.

Mas será que a ciência é detentora da verdade? Será que estava livre de problemas éticos e morais?

Em primeiro lugar, é importante colocar um pouco de moderação quando se afirma que a ciência está associada à verdade. Em segundo, a ciência é política na medida em que é feita por indivíduos que se posicionam politicamente. Quando se depende de dinheiro público para desenvolver determinado projecto, temos que lutar por ele, mostrar que o nosso trabalho é melhor do que o outro! E isso é política!!! No limite, a ciência deveria ser superior, deveria estar no patamar mais elevado que não dependesse da política, contudo, esse nível de desenvolvimento não é atingido, nem sei se alguma vez o será.

A ideia que determinado cientista produz um conceito cientifico irrefutável não deve ser dogmática, uma vez que, ao estar a ser elaborada por cientistas, estes possuem valores éticos e morais dos quais não se podem libertar, que se encontram reflectidos na sua produção científica.

No que se refere à questão dos atentados, não podemos centrar o debate no campo científico, devemos apenas compreender que se trata de mais uma área do conhecimento que nos permite criar uma visão global, e, sempre, pessoal dos acontecimentos, onde os nossos valores ideológicos, éticos e morais são tão ou mais importantes que os argumentos científicos.

Sugestão de leitura

Nome: A Cultura Científica e Os Seus Inimigos

Autor: Gerald Holton

Editor: Gradiva Publicações

Colecção: Ciênci

Ano de Edição/ Reimpressão: 1998a Aberta

ISBN: 9789726626473

Sinopse

Holton adverte-nos contra a crescente «rebelião romântica» dos nossos dias, em que se acusa a ciência de todos os males sociais e se substitui a razão pelas «vias de conhecimento» da new age. Partindo da análise do pensamento de Einstein, mostra-nos que a ciência é de facto a expressão criativa da tradição cultural ocidental e que os maiores avanços científicos resultaram sempre de grandes saltos intuitivos da imaginação. Abrangente e vigoroso, um livro obrigatório para todos os que pretendam entender o lugar que a ciência ocupa no nosso mundo.

Por: António Costa

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