Embora a tecnologia possa ser definida como um conjunto de saberes e de práticas baseado em principios científicos, num domínio da actividade humana, e seja por isso geralmente apresentada como ciência aplicada, não existe uma separação absoluta entre as ciências e a tecnologia. Evidentemente, no caso clássico, uma descoberta científica conduz a aplicações técnicas úteis na vida de todos os dias. A descoberta do laser, por exemplo, levou a numerosas aplicações técnicas: leitura de códigos de barras nas caixas das lojas, gravação e leitura de CD, e mais tarde DVD, impressão de documentos informáticos, entre outros exemplos.
Mas o inverso, isto é, uma descoberta científica que resulta de procedimentos técnicos, é igualmente muito corrente. Algumas técnicas aperfeiçoadas durante as guerras, por exemplo, e depois estudadas mais em profundidade, ocasionaram numerosas descobertas científicas. Um dos exemplos mais tradicionais é o radar que originou a radioastronomia e a ressonância magnética nuclear. Além disso, todo o domínio da instrumentação científica, representado por instrumentos como a luneta astronómica, o microscópio, a balança, o termómetro e o estetoscópio, revelam uma verdadeira simbiose entre a descoberta científica e a invenção tecnológica.
Por conseguinte, não se deveria cair na armadilha da ilusão de um contraste fácil entre ciências desinteressadas, intrinsecamente boas e uma tecnologia interessada, com fins lucrativos, que pode ser a causa de problemas sociais e ambientais. As ciências e a tecnologia estão intimamente ligadas, a ponto de serem por vezes apresentadas, de maneira talvez um pouco abusiva, como uma “tecnociência”.
Neste sentido, esta revolução tecnológica possibilitou avanços no processo de transmissão da informação, valorizando, deste modo, a promoção dos conhecimentos em Ciência em cada indivíduo, como um instrumento de valorização da qualidade de vida em sociedade. Esta ideia é reforçada quando se afirma que a mais-valia destes avanços científicos e tecnológicos na promoção dos conhecimentos científicos está na optimização do tráfego de informação produzido/promovido por cada meio de comunicação. Deste modo, o conhecimento científico contemporâneo não está centrado na condição da Ciência enquanto saber isolado e restrito a um grupo de indivíduos, mas sim passando a Ciência a ser enquadrada num imaginário geral. Este conceito de imaginário geral significa a construção de modelos sociais padronizados assente numa rede complexa de relações entre discursos e práticas sociais. Este raciocínio significa que o conhecimento científico se torna uma propriedade da própria Ciência, enquanto ferramenta, ao dispor de todos os cidadãos, de modo a dotá-los das competência científicas fundamentais para promover uma participação activa no sociedade.
Esta linha de pensamento contém várias implicações a respeito da aprendizagem das ciências. Uma delas diz respeito à própria natureza dessa aprendizagem, que deve incidir sobre a aquisição de uma linguagem e sobre a solução de problemas de coerência nas ciências.
A linguagem das ciências é constituída por um vocabulário que permite exprimir enunciados de observações e conceitos, e por uma gramática, que permite exprimir relações entre conceitos, sob forma de leis, teorias e modelos. Mesmo a expressão de leis e das teorias rudimentares que são concepções frequentes nas crianças, nos adolescentes ou nos adultos, necessitam de uma linguagem bastante sofisticada.
A solução de problemas, na ciências, consiste em eliminar incoerências, contradições entre observações, definições, classificações, leis, teorias ou modelos. Daí que quando se realiza a reforma curricular num determinado nível de ensino deve ter-se em conta que aprender Ciência é:
– Aprender uma linguagem que permita exprimir enunciados de observações e conceitos, leis e teorias, modelos e maneiras de conhecer o mundo;
– Aprender a resolver problemas de coerência entre os conceitos, as leis e os modelos.
Por: António Costa