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Ciência na Guarda?

Mitocôndrias e Quasares

O conhecimento científico e tecnológico é, hoje, consensualmente apontado como um dos principais pilares das dinâmicas de desenvolvimento económico, social e cultural das sociedades contemporâneas. Neste sentido, a influência social da ciência propagou-se às diferentes formas de pensar, disposições cognitivas e orientações da ação da vida quotidiana das sociedades de tal modo que, nas últimas duas décadas, assistiu-se ao incremento de debates acerca de temas científicos e tecnológicos na sociedade.

O cidadão necessita de participar ativamente na discussão destes temas, precisa de entender as grandes questões que se põem à ciência na época contemporânea sendo, deste modo, importante alargar à população em geral, ou pelo menos a segmentos tão vastos quanto possível, a apreensão de aspetos fundamentais inerentes à ciência. A importância de promover a participação do cidadão na ciência apresenta duas dimensões: a primeira associada ao papel da ciência, enquanto dispositivo cognitivo, retórico e comunitário de produção de estratégias de sobrevivência na relação homem/natureza; a segunda, como mecanismo dos governos para legitimar decisões políticas, relacionadas com a ciência e a tecnologia, através da responsabilização dos cidadãos nas definições das estratégias a desenvolver.

Esta é a tese do relatório da The Royal Society of London que defende que «uma melhor compreensão da ciência pelo público pode constituir um elemento determinante para a promoção da prosperidade nacional, elevação da qualidade da decisão pública e privada e enriquecimento da vida do indivíduo». É neste contexto que, nas últimas duas décadas, se tem reconhecido a importância de aumentar a proporção de cidadãos cientificamente literados para participarem no debate público sobre ciência e tecnologia, surgindo deste modo o conceito de Literacia Científica. A Literacia Científica tem sido marcada pela volatilidade desde que surgiu no final da década 50 do século passado, sendo alvo de interpretações e reinterpretações. Inicialmente caracterizada de forma empírica como um objeto pessoal que permite compreender a inter-relação entre a ciência e a sociedade; a dimensão ética dos cientistas no desenvolvimento do seu trabalho; a natureza da ciência; conceitos básicos de ciência; diferença entre ciência e tecnologia e a inter-relação entre a Ciência e Humanidade.

O conceito de literacia científica pode ser encarado, de uma forma empírica, como a capacidade do indivíduo conseguir ler e escrever sobre ciência e tecnologia. Esta definição, assente numa visão empírica, foi sendo substituída por uma visão mais próxima da matriz conceptual da literacia científica, na qual o cidadão não deve apenas ter conhecimentos de ciência, mas também deve compreender a natureza, os objetivos e as limitações da ciência. Deste modo, e como defende Thomas e Kindo, a comunicação de ciência deve «ajudar a criar pontes entre o saber do senso comum das diferentes culturas, e o novo conhecimento científico internacionalizado».

Esta minha argumentação mostra a importância da promoção da ciência, pelo que, tal como defendi na blogosfera, é possível criar um polo de divulgação de ciência de modo a aumentar a dinâmica cultural de ciência na cidade e na região. Esta iniciativa seria pioneira na região portuguesa e espanhola, senão vejamos: os centros de Ciência Viva mais próximas da Guarda, em Portugal, são Coimbra, Aveiro, Proença-a-Nova e Vila Real, a abrir proximamente. Em Espanha, o mais próximo que existe situa-se em Valladolid. Neste sentido, um centro de ciência poderia servir a Guarda, Covilhã e Viseu, e mesmo a região espanhola próxima da fronteira. Este centro poderia ser temático, como acontece, por exemplo, com o Ciência Viva de Vila do Conde ou de Proença-a-Nova. A infraestrutura onde iria funcionar poderia ser a reabilitação de um espaço devoluto na cidade, no âmbito do programa de reabilitação urbana. Mas a questão principal não se centra no projeto, mas sim na capacidade de mobilização para uma aventura destas, na capacidade de seleção das pessoas certas para os lugares certos, na capacidade de inovar e arriscar, na capacidade de definir novas fronteiras para a cultura, na capacidade de decisão…

Por: António Costa

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