A reforma curricular do 3º Ciclo colocada a discussão pelo Ministro da Educação reforça o número de horas letivas para as ciências experimentais. Este aumento de carga horária permite colmatar a “clara insuficiência de carga horária”,valorizando o papel desta área do conhecimento na formação dos nossos jovens.
Esta ideia vai ao encontro da necessidade de promover o espírito empreendedor, assente na Ciência e Tecnologia, como estratégia para o desenvolvimento do país. Deste modo, é importante dar sentido à atividade científica procurando enquadrá-la na sociedade, balizar os seus limites e perspetivá-la para o futuro. Neste sentido vamos olhar para a atividade científica partindo de diferentes enquadramentos, começando com uma definição das ciências, passando pelos objetivos desta área, avançando para a estrutura dos saberes científicos e concluindo com a cultura científica.
Uma definição das ciência
Existe um grande número de definições das ciências. Podem distinguir-se três níveis nessas várias definições. No primeiro nível, muito geral, as ciências designam conjuntos organizados de conhecimentos relativos a certas categorias de enunciados de observações ou de fenómenos. Trata-se nesta altura de ciências biológicas, ciências sociais, ciências políticas, ciências físicas, ciências da educação, entre outras.
Num segundo nível, as ciências designam, além do que precede, um método racional e rigoroso que permite alcançar determinados saberes a respeito de enunciados de observações e de fenómenos. Este método atribui um papel de primeiro plano à experimentação.
Num terceiro nível, as ciências designam o método experimental e os saberes que esse método permite adquirir, nos domínios do universo material e do universo vivo. Esta definição compreende dois aspetos: o método e os saberes. O método corresponde a um conjunto de ações: procurar semelhanças, observar, emitir hipóteses, resolver problemas. Os saberes são o resultado da aplicação deste método: os enunciados de observações, os conceitos, as leis, as teorias e os modelos.
Os objetivos comuns das ciências
Todas as ciências apresentam determinadas características comuns. As ciências procuram primeiro descrever com fidelidade, de uma maneira sistemática, corpos, organismos ou fenómenos. Durante o seu desenvolvimento qualquer ciência conhece geralmente uma primeira fase durante a qual a descrição ocupa um lugar preponderante. Nos séculos XVI e XVII, por exemplo, a botânica e a biologia consistiam sobretudo em descrever e classificar as plantas e os animais.
As ciências pretendem explicar, ao estabelecer leis gerais a partir dos fenómenos observados. Essas leis são verificadas por experiências controladas. Uma ciência que relega para segundo plano o seu papel descritivo e começa a enunciar leis explicativas que podem ser verificadas de uma maneira experimental atingiu uma certa maturidade. Chegada a uma fase de desenvolvimento relativamente avançada uma ciência pode nessa altura predizer determinados acontecimentos e fenómenos. Uma excelente maneira de verificar o valor de uma lei científica consiste em utilizá-la para formular uma predição. A predição da descoberta de Neptuno ou a predição do desvio da luz de uma estrela pelo Sol são exemplos célebres. (continua…)
Por: António Costa