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Cidades, Vilas e Concelhos

Quebra-Cabeças

Meda, Sabugal e Trancoso merecem toda a nossa simpatia. Como a merecem Vila Franca das Naves e Canas de Senhorim. São terras onde deveria haver mais emprego, mais qualidade de vida, mais gente. Merecem também a ajuda do poder central, a solidariedade activa do resto da nação. Merecem discriminação positiva, de que precisam hoje mais do que nunca.

A verdade é que todo o interior do país merece essa discriminação positiva e precisa dela como de pão para a boca. Podia contar-vos aqui a história trágica da Pampilhosa da Serra, um concelho convertido em lar da terceira idade, um sítio onde se morre ou se espera pela morte. Ou então a história, quase igual, da maior parte dos concelhos do interior esquecido do país. Daqueles que não cortam estradas, não aparecem no horário nobre das televisões, não recebem as visitas ou as benesses dos governantes.

A verdade é que só alguns são contemplados. E logo com mentiras. Foi como se dissessem ao povo da Meda, ou de Vila Franca das Naves: “sois pobres sem remédio e, a continuarem as coisas assim, ides morrer. Mas morrereis como cidade. Ou como vila.” Fraca consolação. Como fraca consolação seria a da criação de mais um concelho em Canas de Senhorim, como se não fossem em excesso os concelhos em Portugal e sobretudo no interior. O verdadeiro combate terá de ser, mais tarde ou mais cedo, o da extinção dos municípios inúteis – mas quem tem coragem?

Por um lado luta-se pela regionalização, pela criação de mais uma instância de poder entre o município e o poder central, procurando criar massa crítica ao longo do território e, pelo outro, há quem lute pela sua pulverização em concelhos de seis, sete mil habitantes. É como se uns puxassem por um lado, outros pelo outro e fosse impossível qualquer consenso entre ambos.

É claro que o Sabugal precisa de um incentivo, de algo que o compense da brutal perda de população sofrida nos anos noventa. Agora, em vez de se dizer “a Vila do Sabugal está despovoada”, vamos dobrar a língua e falar da “Cidade do Sabugal”. Despovoada ela também.

Canas de Senhorim? Ninguém a vê lutar por empregos, que não os que se criariam através do seu novo e artificial município. Ninguém a vê reivindicar nada, a não ser um retrocesso inútil e dispendioso que passa ao lado do verdadeiramente importante.

Por: António Ferreira

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