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Chover cães e gatos

Extremo Acidental

O governo português mais ultraneoliberal de sempre quer legislar sobre o número de animais domésticos permitidos nas casas. Cada apartamento português fica assim limitado a um par de cães ou uma quadriga de gatos. Infelizmente, a notícia não esclarecia devidamente o número que o governo pretende aplicar a tartarugas, periquitos ou orangotangos. Mas o que espero com ansiedade é a limitação do número de moscas na sala e de melgas no quarto, para que eu as possa enxotar com a simples frase “sai daqui, estás ilegal”.

Esta semana a União Europeia produziu um relatório para poder regulamentar as descargas dos autoclismos. É melhor ter cuidado com a fertilidade no aquário, porque quando o inspector do Instituto Nacional para a Contagem de Animais de Companhia entrar pela porta dentro, a água da sanita poderá não ser suficiente para levar consigo os peixes em excesso.

Na sequência da proposta, espera-se que o governo prossiga agora com a regulamentação do número máximo de clientes numa mesa de café, a quantidade de amigos que se podem juntar num churrasco ou o número limite de pessoas que se podem levar para a cama numa semana ou, se as coisas correrem bem, na mesma noite.

Como esta legislação é apresentada com o objectivo de manter o bem-estar das pessoas, gostaria de alertar para alguns limites que o meu bem-estar impõe. Para uma boa e sã convivência entre mim e os meus vizinhos ninguém poderia ouvir mais de um álbum de heavy metal por mês, ninguém poderia ultrapassar 15 decibéis para festejar golos do Benfica e ninguém poderia usar mais de três gotas de perfume por toillette.

Uma vez que o governo está em modo planificação central, sugiro benchmarking ao bom comunismo na política de natalidade. Se uma criança sozinha faz um enorme chinfrim – principalmente depois de ser desamarrada e de se lhe tirar o pano da boca – imagino que quatro miúdos causarão incómodos incomparavelmente maiores do que três cães ou cinco gatos. Os portugueses têm a segunda pior taxa de fertilidade da Europa, mas afinal a culpa não é do povo. O condomínio é que não deixa.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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