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Choque frontal no executivo

A Câmara da Guarda viveu uma semana agitada pelas trocas de acusações dos seus vereadores do PS e PSD

O já de si turbulento mandato do actual executivo guardense conheceu esta semana mais um capítulo agitado e pouco dignificante. Entre acusações várias e pedidos recíprocos de demissão, os vereadores de PS e PSD parecem ter juntado lenha suficiente para “incendiar” a próxima reunião de Câmara, na quarta-feira, onde, entre outros assuntos, é suposto discutirem temas como o plano de negócios da Plataforma Logística. A não aprovação do documento na última sessão obrigou mesmo ao adiamento da Assembleia Geral da PLIE prevista para a última terça-feira. Sem consequências de maior tem sido a troca de acusações entre Maria do Carmo Borges, Álvaro Guerreiro (PS), Ana Manso e Luís Costa (PSD).

Tudo começou quando os dois vereadores social-democratas propuseram o adiamento da última reunião para o dia seguinte (quinta-feira), invocando a ausência em Lisboa da presidente, a «primeira responsável» na discussão e deliberação dos assuntos em agenda, defendeu Manso. O mesmo não entendeu a maioria PS e votou contra, não sem antes insinuar que tal pedido facilitaria a vida à também deputada, que nessa mesma tarde interpelou, em nome do seu partido, o ministro da Saúde na Assembleia da República. Os eleitos do PSD não gostaram das insinuações e abandonaram a sessão provocando a consequente falta de quorum e o fim dos trabalhos decorridos apenas 25 minutos. Um dia depois, Maria do Carmo deu sinais de si e desafiou Manso e Costa a demitirem-se do cargo e assim deixarem «outros trabalhar em prol do bem comum dos guardenses», considerando que os dois vereadores «desrespeitaram» o município, a população e os eleitores do PSD. A presidente acusou ainda os social-democratas de terem provocado «deliberadamente» a falta de quorum e contra-atacou: «Pelos vistos, Ana Manso não acredita na capacidade das pessoas que escolheu para a sua lista», disse, recordando que tem sido Crespo de Carvalho quem «normalmente» trata na bancada da oposição os assuntos com importância nas reuniões de Câmara.

«Toda a Câmara deve demitir-se»

«Ana Manso não tem estado presente nas reuniões deste executivo quando são discutidos assuntos importantes, tanto assim que já perdi a conta às vezes em que falta ou sai a meio», acrescentou, responsabilizando ambos os vereadores pelas prováveis «consequências» na abertura do ano escolar, no atraso da contracção de empréstimos para habitação social e a PolisGuarda, bem como o adiamento da discussão do plano de negócios da PLIE. «Estes assuntos não se compadecem com atrasos e com factos políticos artificiais que só servem para promoção pessoal», avisou Maria do Carmo. Ana Manso e Luís Costa deixaram passar o fim-de-semana e reagiram em conferência de imprensa [da qual lamentavelmente não informaram “O Interior”] na segunda-feira. Ambos refutaram as acusações e responderam com outro repto: «O desafio que a presidente nos fez publicamente deve ser entendido como um desafio para que toda a Câmara se demita», defendeu, evocando a «caótica» situação financeira do município, a sua «desorganização» interna, a «falta de estratégia e de visão de futuro», a «pressão dos “lobby’s”» na gestão corrente. Mas Ana Manso não se ficou por aqui e alegou que as declarações da presidente deixaram «transparecer algum desequilíbrio, um notório cansaço político e notas de irracionalidade próprias de pequenos ditadores».

E cortou a direito: «Maria do Carmo Borges tentou provocar divisionismos na minha equipa recorrendo à intriga, mas não o conseguiu agora e não vai consegui-lo no futuro. Preocupe-se com o funcionamento da sua equipa e deixe os vereadores do PSD funcionarem, porque até hoje deram provas de que são uma verdadeira oposição, preocupada com a defesa dos interesses de todos os guardenses e não são apenas a voz de alguns “lobby’s”, vícios e maus hábitos instalados na Câmara». Quando tudo parecia ter sido dito, Álvaro Guerreiro veio dar o seu contributo, criticando a «manobra de cobardia política» dos social-democratas, que, na sua opinião, confessaram que tudo era «evitável» se as reuniões de Câmara se realizassem à segunda-feira, porque nesse dia os deputados não têm «qualquer “incompatibilidade”» que os impeça de estarem presentes. Por outro lado, o vice-presidente da autarquia considera a acusação de «desequilíbrio» imputada a Maria do Carmo representa uma ofensa pessoal «só invocável por quem já confunde combate político com ataques pessoais». As cenas dos próximos capítulos seguem quarta-feira no lugar do costume.

Luis Martins

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