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Chefe, precisamos de mentiras novas!

“Quando a nossa festa s’estragou

e o mês de Novembro se vingou

eu olhei p’ra ti

e então entendi

foi um sonho lindo que acabou

houve aqui alguém que se enganou”

José Mário Branco (Eu vim de longe)

Recordo com saudade um PREC nunca esquecido, e que os tempos seguintes foram transformando numa cabala de proporções enormes, que ainda hoje vai prevalecendo como verdade em muita gente que tampouco viveu esse período entusiasmante da sociedade portuguesa.

O 25 de Novembro de 1975 marca a derrota clara da esquerda militar, empurrada que foi para uma aventura golpista sem objetivos claros, mas não foi a derrota do 25 de Abril de 1974 como muitos então saudosos do salazarismo assim o desejavam.

O PREC (Processo Revolucionário Em Curso) emerge no 11 de Março de 1975, data em que uma tentativa de golpe spinolista é travada, e inicia-se um período de nacionalizações de múltiplos sectores da sociedade portuguesa, que curiosamente hoje a maioria das pessoas acha que deveriam permanecer na mão do estado, e a sua privatização é o definitivo entregar aos sucessores do xerife de Nothingham, na versão caseira dos montes Hermínios.

Os governos neo-liberais que governam o País nas duas últimas décadas dedicaram-se a desbaratar esse conjunto de empresas que foram nacionalizadas em 1975, como forma de evitar que as “sete famílias” que dominavam economicamente Portugal atrofiassem e boicotam-se as “conquistas de Abril”, a caírem infelizmente no baú das recordações, e nas palavras de ordem das cada vez maiores manifestações de rua.

Hoje quando vou ouvindo algumas opiniões particularmente dos “senidores” da democracia como é o caso de Cavaco, Soares ou Almeida Santos, e quejandos, fico com a sensação que são alienígenas, pois acho que nunca estão ou estiveram em lugares de responsabilidade e que o Varas, Loureiros, Oliveiras, Coelhos, Melancias e outros seres que povoam o mundo vegetal e animal, nunca foram seus companheiros de estragos.

Quando recordo Vasco Gonçalves e um conjunto de militares de Abril voluntariosos na vontade de contribuir para a elevação económica social e cultural dos cidadãos do país, e vejo quanto foram aviltados na sua dignidade, sem que alguém pudesse dizer que esta gente se aproveitou do lugar para benefício pessoal, de familiares próximos ou comanditas que regem a partidocracia reinante desde as estruturas autárquicas ao poder central passando por todo um conjunto sinuoso de patamares, alguns deles fechados a sete chaves e inacessível ao obscuro objeto de certos desejos.

Não sei bem porquê mas veio-me à lembradura o tipo que faz um biscate numa casa e enquanto vai fazendo o trabalho, com uma loquacidade espantosa vai desferindo em todos os sentidos, “contra os aldrabões que nos governam”, “faz falta aqui um Salazar”, “Querem ir para lá para se abotoarem”, “cambada de vigaristas” e por aí fora. Acabado o trabalho pedes-lhe a “venda a dinheiro” e ele vocifera como lhe estivesses a fazer o maior insulto: “Você tem que me pagar o IVA, mas se eu soubesse que queria fatura levava-lhe mais, porque este ano já tive que passar umas poucas e levo com o aumento de imposto no fim do ano, para dar de comer a estes vígaros”.

Talvez os culpados fossem mesmo os do 25 de Abril de 1974, porque afinal depois deles entregarem isto aos politiqueiros o país vai de vento em popa!

Por: Fernando Pereira

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