1. Aquando do nascimento do euro, vários economistas americanos alertaram para os riscos colossais dessa aventura. Por exemplo, Milton Friedman afirmou que a moeda única não resistiria à primeira depressão económica. Na altura, os europeus (economistas incluídos) diziam, com arrogância, que se tratava apenas do medo dos EUA da concorrência ao dólar. Em 1961, Robert Mundell introduziu o conceito de Zonas Monetárias Ótimas, o qual revela os motivos pelos quais o euro tinha tudo para dar errado. Para Mundell, uma integração monetária eficaz exigiria uma série de condições chave, nomeadamente: ciclos económicos sincronizados – só assim a política cambial poderia ser adequada para todos os países ao mesmo tempo; mercado de trabalho bastante flexível; mobilidade dos trabalhadores elevada, para que os países com mais emprego absorvessem os desempregados dos outros países; orçamento comum elevado, que permitisse fazer uma redistribuição de recursos a favor dos países em maiores dificuldades económicas. Como é sabido, a zona euro não preenche nenhum destes requisitos. A teoria das Zonas Monetárias Ótimas é do início dos anos 1960, mas os líderes europeus, contra todas as teorias e, sobretudo, contra toda a evidência, conduziram-nos ao atual desastre. Sempre detestei iluminados.
2. Na sua luta, os sindicatos dos professores têm insistido no discurso da defesa da “escola pública”. É um erro, a meu ver. Os portugueses não são parvos e percebem perfeitamente que o que está em jogo são os empregos e os chamados “direitos adquiridos” dos docentes. Ora a defesa do emprego é um direito legítimo e inalienável, que toda a gente entende, independentemente de se concordar ou não com tudo o que os sindicatos reclamam ou com as suas formas de luta – que, diga-se de passagem, me merecem as maiores reservas. Os professores deviam assumir, sem complexos, os seus receios, não os deviam embrulhar num paleio abstrato sobre a escola pública, até porque, como é evidente, a escola pública não se resume a questões laborais. O número de alunos por turma, os mega-agrupamentos, a eleição dos diretores de escola, a possibilidade dos pais escolherem ou não a escola dos seus filhos, as fórmulas de financiamento, a maior ou menor autonomia das escolas, o método de colocação e contratação de docentes, tudo isso são questões fundamentais sobre o que é ou deve ser a escola pública.
Moral da história? Chamar as coisas pelos nomes parece-me ser a estratégia mais eficaz e honesta dos professores. O Estado está a rasgar contratos, não é uma pessoa de bem, nem de confiança, e é isso, e somente isso, que deve ser dito claramente. Ponto.
Por: José Carlos Alexandre