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Chamam-lhe comunicação

Agora Digo Eu

Dói ver o estado a que chegaram a Quinta da Maúnça e o Parque Urbano do rio Diz (Polis). Abandono, desleixo, incúria. Estas três palavras perpassam em duas reportagens publicadas na semana passada em “O Interior”. A Câmara da Guarda fica muito mal na fotografia. Na verdade, nada disto nos deve surpreender. Como é sabido, as prioridades de Álvaro Amaro são outras. Obras que deem nas vistas e “show off”, eis o que realmente anima o sr. Presidente. Desgraçadamente, a simples manutenção dos espaços não permite (re)reinaugurações, com noites brancas mais caras do que as (re)requalificações que lhe servem de pretexto.

Na Quinta da Maúnça existe hoje apenas uma funcionária a tempo inteiro, sem computador, telefone ou internet. O site foi retirado. Foi tudo apagado. No Polis falta limpeza, segurança, manutenção, iluminação. Agora, porque vêm aí as eleições, anda-se à pressa a gastar rios de água para esverdear a relva. Alcatroa-se partes do parque contra o estabelecido no regulamento. O lago é uma vergonha. Os maus cheiros invadem o local. Miguel Alves, proprietário do café “O Lago”, ameaça rescindir o contrato com a Câmara. A FIT destruiu o espaço e atropela a zona da concessão, desabafa o empresário. A FIT, isso sim, é uma grande prioridade de Álvaro Amaro. Compreende-se. Uma feira de vaidades, onde a Câmara enterra centenas de milhares de euros por ano sem que os privados, ao fim de quatro edições, deem sinal de interesse em investir ou participar na coisa. De qualquer maneira, é mais uma oportunidade para aparecer de braço dado com o Presidente da República, pagar a peso de ouro alguns minutos de publicidade nas rádios nacionais e nas televisões e tirar uma dúzia de “selfies”. Bem vistas as coisas, o evento, como gosta de dizer Álvaro Amaro, cumpre plenamente os objetivos.

Aliás, um grande objetivo deste executivo camarário é a comunicação, como confessa um tal de Carlos Condesso, chefe de gabinete e diretor do “Boletim Municipal”. Este especialista (?) foi importado de Figueira de Castelo Rodrigo. Na Guarda e na Câmara em particular não há com certeza gente com qualidade suficiente para preencher os exigentes critérios do sr. Presidente, mas adiante. Infelizmente, parece-me que o sr. Condesso confunde ou reduz a comunicação à propaganda. Em 2016, em 308 municípios, a Guarda aparecia em 252º lugar em termos de transparência, de acordo com a Associação Cívica Transparência e Integridade. Este é um dado credível. Já declarações como «a autoestima coletiva desta cidade está hoje a um nível incomparável» não passam de fezadas do sr. Condesso – a menos, claro, que ele tenha inventado algum “autoestimómetro”. Em dezenas de cartazes, pagos pelo erário público, é-nos dito que “A Guarda renasce”. O que renasce a olhos vistos é o culto do sr. Presidente, um culto como já não se via há muito por estas bandas. Ou, como diria o outro, é comunicação.

Por: José Carlos Alexandre

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