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CERCI’s denunciam «desinvestimento» do Estado

Avaliação interna vai apurar qualidade dos serviços prestados e condições de sustentabilidade das cooperativas

As Cooperativas de Educação e Reabilitação de Crianças Inadaptadas (CERCI) vão promover este ano uma avaliação interna para apurar a qualidade dos serviços prestados e as condições de sustentabilidade das 50 instituições existentes no país. O anúncio foi feito no final do III Encontro Nacional de Dirigentes das CERCI’s, que decorreu na Guarda no passado fim-de-semana, cujas conclusões apontam para a necessidade «urgente» de reavaliar algumas das formas contratuais com o Estado. «As CERCI’s estão a sentir dificuldades em dar respostas aos seus utentes, porque o Estado não paga a horas nem investe em infraestruturas necessárias, para além dos apoios disponibilizados não cobrirem nunca a totalidade dos custos», avisa Rogério Cação, director-executivo da Federação Nacional das Cooperativas (FENACERCI).

O encontro reuniu cerca de 40 dirigentes durante dois dias, que se mostraram muito preocupados com o «desinvestimento» estatal nesta área. «Quem vai sair prejudicado são as pessoas com deficiência», lamenta aquele responsável, destacando as «necessidades prementes» de várias CERCI’s em termos de estruturas residenciais, assistenciais e ocupacionais, para além da formação profissional, «que corre o risco de deixar de se fazer com o fim do Fundo Social Europeu». Julieta Sanches, presidente da FENACERCI, lembrou, por sua vez, as dificuldades sentidas na intervenção precoce, cuja portaria «nunca funcionou» devido a uma «completa desarticulação» entre os ministérios da Educação, Família e Saúde. Face a todas estas contrariedades, Rogério Cação admitiu mesmo que há organizações em «situação grave de estrangulamento financeiro», mas realçou que a Federação tem um fundo de emergência para apoiar estes casos e que o mesmo já foi utilizado. «O Estado é o nosso principal cliente e, não havendo sempre celeridade nos pagamentos, é óbvio que os prejuízos vão-se acumulando», revela, sublinhando que os financiamentos do PIDDAC chegam atrasados e deixam as associações «à beira de um ataque de nervos».

Contudo, nem só de dificuldades se falou neste seminário, que serviu também para afirmar o dinamismo destas estruturas e o surgimento de novos quadros. «As CERCI’s estão cada vez mais apetrechadas em termos técnicos, organizacionais e estruturais», disse Rogério Cação, que realçou por isso a necessidade de alargar o quadro de formação de dirigentes das cooperativas. «Estamos num quadro de mudança e de exigências, o que exige lideranças muito bem preparadas», garantiu. Ficou ainda decidido avançar para a uniformização dos procedimentos internos das CERCI’s e promover a tal avaliação interna, na qual irão colaborar instituições espanholas, a Universidade de Coimbra e o INDEG, ligado ao ISCTE. Um estudo que começa imediatamente, enquanto os dirigentes reclamam o regresso do diálogo da parte do Estado.

Luis Martins

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